Reflexão: Liturgia do XIV Domingo do Tempo Comum, ano C, 07/07/2019

30 de Junho de 2019

"Reflexão: Liturgia do XIV Domingo do Tempo Comum, ano C, 07/07/2019"

A missão da Igreja e a do cristão: Evangelizar

Na Liturgia deste Domingo, XIV do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Is 66, 10-14c), que, na nova sociedade sonhada pelo profeta Isaías, a paz é como rio que irriga a plantação.

Na 2ª Leitura (Gl 6,14-18), o Apóstolo Paulo não alimenta nenhum sonho de glória, a não ser a que está na cruz do Ressuscitado.

No Evangelho (Lc 10, 1-12.17-20), vemos que todos somos enviados por Jesus para anunciar a paz e a vida nova num mundo ferido por muito sofrimento. Neste envio, as instruções são explicitas: mansidão, pobreza, ser portadores de paz, contentar-se com o que há, interessar-se pelos necessitados e anunciar o Reino; se rejeitados, repetir o anúncio; não se deixar levar por um entusiasmo fácil diante do sucesso; a única coisa válida é ser membros do Reino; enfim, estar convencidos de que o Reino não se constrói em um dia.

Sabemos que a missão da Igreja e do cristão é evangelizar, evangelizar implica ser enviados, enviados a proclamar a Boa Notícia que é Jesus, e Jesus é a salvação, não só da alma, mas também do corpo, do ambiente, enfim da pessoa por inteiro. Evangelizar é se preocupar com a cidadania das pessoas, pois a pessoa humana é sujeito de direitos, à vida digna, ao trabalho justamente remunerado, à liberdade, à propriedade, à associação, à manifestação das opiniões, ao exercício do culto de Deus, segundo a própria consciência, à participação na vida política da comunidade (Também os Direitos: CIVIS: vida, integridade, liberdade, igualdade perante a lei. SOCIAIS: educação, saúde, informação, cultura, meio ambiente. ECONÔMICOS: terra, alimentos, trabalho, moradia. POLÍTICOS: participação, votar e ser votado), e deveres, de justiça e de caridade. Desde Leão XIII, a Igreja nos diz que as pessoas carentes devem receber auxílio, não por esmola, mas por justiça, porque têm o direito de viver em termos humanos e dignos.

A Evangelização implica em levar a Boa Nova a todas as realidades, procurando fazer com que as massas se conformem aos critérios do Reino de Deus. Por isso, a ação evangelizadora deve atingir, também, o mundo da Política, entendida no seu real sentido, como busca e promoção do bem comum, e que, para tal, se encarna em instrumentos operacionais, que são os partidos políticos, as organizações populares e outras instituições (cf. EN 29-31, Puebla 507-534, Doc. 40 da CNBB, 73-83). 

A relação das pessoas com os bens materiais costuma repercutir profundamente na sua vida espiritual: de um lado, a miséria pode embrutecer a pessoa humana e nela excitar paixões, constituindo forte tentação para que viole a lei de Deus; doutro lado, a opulência endurece o coração, dificultando a compreensão dos valores invisíveis e eternos.

Por isso, à Igreja, interessam as normas que regem a vida social e econômica, elas se relacionam com a consciência moral e com o comportamento religioso das pessoas. Pronunciando-se sobre tais questões, a Igreja tem consciência de não estar negligenciando a tarefa religiosa que lhes foi confiada, julga, ao contrário, estar cumprindo um dever: o dever de tornar o Evangelho presente em todas as situações humanas (cf. Paulo VI, PP, 13 e 42 e Catecismo da Igreja Católica, 2032).

A Igreja, para melhor evangelizar, deve estar com os pés no chão (não podemos nos esquecer: nós somos Igreja), isto é, analisar a realidade, analisar a conjuntura política-social-econômica do país, a partir da fé, a partir do Evangelho, a partir do Projeto do Reino de Deus, da Palavra de Deus, da Prática de Jesus e da Tradição Cristã.

A realidade nos ajuda a descobrir o sentido mais profundo da mensagem evangélica e a viver com maior autenticidade a nossa fé. Não podemos nos limitar a dizer que a fé nos proporciona a luz para interpretar melhor a realidade. Jesus "percorria todas as cidades e povoados" (Mt 9,35ss), tinha toda uma pedagogia para evangelizar. Ex: Com a Samaritana, com os discípulos de Emaús etc.

O Evangelho de Jesus tem uma dimensão social tão profunda que deixá-la de lado ou negá-la significa desfigurar completamente o anúncio e a prática de Jesus Cristo, o Filho de Deus, razão de nossa fé. Fazer uma opção de Fé cristã, sem assumir um compromisso social na linha da busca da justiça, da solidariedade, da supressão das situações de miséria, da justa distribuição dos bens, da defesa da vida, da opção pelos pobres, da organização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos fundamentais, é uma opção de fé incompleta, capenga, insuficiente.

Fazer uma opção de fé e colocar-se contra esse compromisso é uma opção de fé falsa. É uma idolatria. A opção de compromisso social é uma graça de Deus, se não a tivermos, mas, pelo menos, não criticarmos os que a possuem, já é um grande avanço. Combater ou depreciar os que caminham por essa direção é combater e depreciar o próprio Deus que vê, ouve e desce para libertar todos os que sofrem as consequências desse mundo injusto e desigual. O que mais machuca são as críticas que vêm de dentro, dos próprios irmãos e irmãs, dos próprios cristãos.

Oxalá ninguém precise apresentar, um dia, diante do Tribunal de Deus, a desculpa que não sabia que era necessário se comprometer e transformar as realidades temporais. Enquanto é tempo, escutemos o clamor dos pobres e dos que sofrem, pois, caso contrário, “mesmo que um morto ressuscite, não ficaremos convencidos” (Cf. Lc 16, 19-31).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá