Reflexão: Liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum, Ano C – 21/07/2019

15 de Julho de 2019

"Reflexão: Liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum, Ano C – 21/07/2019"

Ação e contemplação, acolhida e escuta: Duas atitudes complementares e fundamentais na vida cristã

Na Liturgia deste Domingo, XVI do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Gn 18, 1-10a), que Abraão, ao acolher, com alegria, três hóspedes desconhecidos, acolhe, também, o dom da vida que Deus lhe oferece. Deus se mostra no humano e Abraão vê Deus naqueles caminhantes: “O Senhor apareceu a Abraão... levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele”. Abraão é generoso com os visitantes e os acolhe em suas necessidades, não só lhes abre as portas, mas também o coração. Amar e acolher as pessoas se torna remédio, cura de nossa alma, encurta distâncias; enfim, realizam-se as promessas de Deus sobre aquilo que mais desejamos na vida, ser felizes. Deus passa por nossa vida, junto de nossa casa, importa fazê-lo entrar para que a nossa vida não fique vazia. Deus pode chegar com a aparência de um necessitado, num momento imprevisto, importa que lhe ofereçamos hospitalidade, pois, a cada gesto de bondade praticados em prol dos que precisam, Deus nos devolve, em bênçãos, cem vezes mais.

Na 2ª Leitura (Cl 1, 24-28), o apóstolo Paulo apresenta o próprio exemplo: acolheu Cristo em sua vida, que deu sentido à sua vida e sua missão. A missão do cristão é acolher as pessoas, com a sensibilidade do coração, para que elas se sintam amadas e valorizadas. Por causa da grande experiência do amor de Deus, Paulo se identificará em cada pessoa, principalmente nos mais fragilizados, como foi o caso de Onésimo, um escravo que ele encontrou na prisão: “Ele é como se fosse o meu próprio coração” (Fl 1, 12). As pessoas não procuram, na Igreja, uma boa organização, mas serem ouvidas e receberem palavras que comuniquem o Amor de Deus.

No Evangelho (Lc 10, 38-42), vemos que Jesus está na casa de Marta e Maria: duas mulheres, duas atitudes, uma acolhe e outra escuta, são duas atitudes complementares de ação (Marta) e contemplação (Maria); acolhida e escuta são duas atitudes fundamentais na vida cristã.

Jesus nos ensinou a buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, este pode se manifestar na contemplação: ouvir e colocar em prática; mas também na ação: santificar a família, o trabalho e o mundo. O ‘altar’ do leigo são as realidades temporais, ali ele deve fazer o Reino acontecer.

Neste Evangelho, vemos que Jesus e Marta querem reconhecimento: Onde? Pela Palavra, na santa missa, nas pastorais e nas demais ações da Igreja, pois ali as pessoas estarão frente a frente, não viverão no anonimato, na solidão; as pessoas sentirão a proximidade, o afeto, a ternura. Mais do que providenciar coisas práticas, ali deverá ocorrer o relacionamento solidário e cada pessoa será um dom para o outro.

“O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o perigo de ser um serviço a si mesmo: autoafirmação à custa de quem é ‘objeto’ de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, o porta-voz de Deus, o portador das palavras de vida eterna” (Pe. Johan Konings). Jesus não censurou Marta porque cuidava da cozinha, mas porque quer tirar Maria do ‘escutar’ para fazê-la se igualar a suas preocupações, servindo a si própria. Aqui podemos colocar a seguinte questão: Devemos alimentar o Senhor somente com nosso ativismo ou ser por ele alimentados? Quando participamos da Eucaristia, somos todos hóspedes e o Senhor nos oferece a melhor parte: Palavra e Pão: “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

Mas temos que ter em conta, também, que, na sua pregação, Jesus ensina a apreciar o trabalho. Ele descreve a Sua própria missão como um trabalhar: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Jesus ensina aos homens a não se deixarem escravizar pelo trabalho. Eles devem preocupar-se, antes de tudo, com a sua alma; ganhar o mundo inteiro não é o escopo de sua vida (Mc 8, 36).

Em Seu ministério, Jesus trabalha incansavelmente, realizando obras potentes para libertar o homem da doença, do sofrimento e da morte. Quando o ser humano fica preocupado e agitado por muitas coisas, corre o risco de negligenciar o Reino de Deus e sua justiça. O trabalho representa uma dimensão fundamental da existência humana, como participação na obra não só da criação, mas também da redenção. O trabalho pode ser considerado como um meio de santificação e uma animação das realidades terrenas no Espírito de Cristo. Mediante o trabalho, o homem governa, com Deus, o mundo, suscita aquelas energias sociais e comunitárias que alimentam o bem comum, a favor, sobretudo, dos mais necessitados, portanto o trabalho não é só para uma grandeza de si mesmo, mas para o bem comum e a salvação de todos (Mt 25, 35-36).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá