Reflexão: Liturgia do XII Domingo do Tempo Comum, Ano A – 21/06/2020

21 de Junho de 2020

"Reflexão: Liturgia do XII Domingo do Tempo Comum, Ano A – 21/06/2020"

O valor da vida eterna: A Morte sela o que foram as nossas opções em vida


Na Liturgia deste Domingo, XII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura(Jr 20, 10-13), o íntimo de alguém que se entregou à missão profética, o confronto de sua missão com as estruturas decadentes da época. Zanga-se com Deus, acusa-o de sedução, maldiz o dia em que nasceu e, após a experiência com Deus, reconcilia-se e começa a ver sua história a partir da fé. A missão não será fácil, mas Deus estará com ele.

O texto mostra que, em tempos difíceis, Deus suscita Profetas. O Profeta é a consciência crítica do povo e alguém que se fortalece pela palavra de Deus para denunciar tudo o que causa sofrimento às pessoas. O Profeta é aquele que faz a leitura divina dos acontecimentos humanos. É o responsável, para Deus, diante das pessoas, e das pessoas, diante de Deus. Igual Jesus Cristo, o Profeta “é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67). O Profeta é o homem da Aliança, mas também o homem da esperança; não é vidente e nem prevê catástrofes, anuncia as exigências do Evangelho, confronta-as com a realidade. É um crítico das pessoas e das sociedades. Por ter uma consciência mais profunda, ele questiona, denuncia, confronta, exige e, muitas vezes, com suas palavras, ‘choca’ os legitimadores dos sistemas vigentes, por isso nem sempre é ouvido, sofre a perseguição e a solidão. Como no tempo de Jesus, sua terra e seu meio não o compreendem. Então, só resta recorrer e até ‘reclamar’ com Deus:

“Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo. Sou objeto de contínua zombaria... olho ao redor e vejo violência e devastação... Não mais o mencionarei e nem falarei em seu nome. Mas em meu seio havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo, e não o consegui... Maldito o dia em que nasci! Nem abençoado seja o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que levou a notícia a meu pai e que o cumulou de felicidade ao dizer-lhe: Nasceu-te um menino! Por que não me matou, antes de eu sair do ventre materno?! Minha mãe teria sido meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí do seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?” (Jr 20, 7-18).

Mas, o Profeta, embora, algumas vezes, caia num grande sofrimento, não se deixa abater ou atingir, ele tem consciência de que o chamado é de Deus: “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1, 4-5).

Ele não age por si, age em nome de Deus, é um porta-voz credenciado: “Comunica-lhes tudo o que eu te mandar dizer. Não tenha medo deles” (Jr 1, 7-8).

Vive mergulhado em conflitos, mas não é enviado para a derrota: “Faço de ti uma fortaleza, uma coluna de ferro e muro de bronze, diante dos reis de Judá e seus chefes, diante de seus sacerdotes e de todo o povo da nação” (Jr 1, 9-10).

Enfrenta o poder: político, econômico e religioso: “Eles farão guerra contra ti”. Mas ele tem Deus como seu aliado: “Não prevalecerão, porque estou contigo, para defender-te”. A vitória é do Deus da vida. “Se o Senhor é por nós, quem será contra nós. N’Ele nós somos mais que vencedores” (Rm 8, 31-39).

A partir desta leitura, também nós não tenhamos medo de dizer sim a Deus, pois é Ele quem escolhe, capacita e protege.

Na 2ª Leitura (Rm 5, 12-15), o apóstolo Paulo afirma que Cristo é o homem novo, o iniciador de uma nova humanidade. Todos os que não entram em relação com Cristo, pela fé, continuam em solidariedade com Adão e sua descendência e, por isso, estão em um estado de morte espiritual. Adão prefigura o ser humano falido, e Cristo representa a humanidade agraciada por Deus.

No Evangelho (Mt 10, 26-33), Jesus fala dos sofrimentos que os discípulos deverão enfrentar e exorta três vezes: “Não tenhais medo”, pois, para Ele, o medo é um grande impedimento ao anúncio do Evangelho e, com isso, correm o perigo de serem renegados por Deus. Jesus, também, diz que há uma consolação no sofrimento: o Pai vê e é solidário. Mesmo a morte que possa alcançar o discípulo, por causa do testemunho, não deve ser temida, pois Deus é o Senhor da vida. A segurança dos discípulos não está na força das armas e da violência, está sim no Evangelho e na promessa de Jesus: “Todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante de meu pai que está nos céus”. Quem é fiel a Jesus terá Jesus a seu favor diante de Deus.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.



Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá – PR