Reflexão: Liturgia do II Domingo do Advento, ano B – 06/12/2020

30 de Novembro de 2020

"Reflexão: Liturgia do II Domingo do Advento, ano B – 06/12/2020"

A vontade divina de encontrar-se com o ser humano deve corresponder à vontade humana de encontrar-se com deus

Na Liturgia deste Domingo, II do Tempo do Advento, veremos, na 1a Leitura (Is 40,1-5.9-11), o anúncio festivo do retorno, já próximo, do povo da Babilônia para Jerusalém. O Profeta Isaías anuncia que terminou o tempo da escravidão e, com o perdão de Deus, todos devem começar uma nova vida. Isaías garante a fidelidade de Deus e a vontade divina de conduzir o povo para a liberdade e a paz. Pensemos, também nós, se hoje não estamos no ‘exílio’, isto é, longe de Deus. Busquemos a reconciliação, o arrependimento, a conversão, intensifiquemos momentos de oração, participando da Novena de Natal, praticando gestos de solidariedade. Enfim, façamos a experiência da misericórdia, pois Deus é o resgatador da vida ameaçada, cuidador das pessoas enfraquecidas. Ele nos quer falar e consolar o coração: “os levarei ao deserto, e lhes falarei ao coração” (cf. Os 2,14).

Na 2ª Leitura (2Pd 3, 8-14), o Apóstolo Pedro nos fala que Deus aguarda com paciência nossa conversão, de modo que possam realizar-se suas promessas de salvação. O texto não fala de fim do mundo, mas de uma transformação em “novos céus e nova terra”, da humanidade renovada, na qual se realizará nova ordem com justiça. A questão levantada aqui é se Deus está demorando, ou se sua presença tem que ser percebida em nosso comportamento? O cristão pode apressar a vinda de Cristo Glorioso: “Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele” (Cl 3, 4). O maior milagre que Deus faz por nós é nos dar a capacidade de mudar: “cair em si” (Lc 15, 17).

No Evangelho (Mc 1, 1-8), Marcos dá início ao seu Evangelho, apresentando-nos o Profeta João Batista, precursor de Jesus, que nos convida à conversão e que nos aponta o caminho para acolher o Messias Libertador. Neste texto, devemos considerar alguns pontos como chaves de leitura:

1º - Qual é o papel do Profeta, isto é, qual é o papel do pai, da mãe, de um líder, enfim, de um educador evangelizador: ser seta, apontar Jesus, pregar a conversão – “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15).

- O cristão deve apresentar ideais, projetos que levem à plenitude da vida, serenidade, harmonia. “Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt 3,1).

3º - O líder tem consciência das dificuldades, consciência de ser uma “voz que grita no deserto”. Deserto é o lugar de provação, de purificação, meio, não fim. Implica formas diferentes de viver. É o lugar onde Deus educa seu povo com sinais. Deserto, hoje, é a Igreja, são as lideranças, são os cristãos que gritam, convocam e organizam o povo para fazer uma nova história. Para acolher os apelos de Deus, há que se despojar da mentalidade do pecado: “Se vocês não mudarem o vosso modo de pensar e agir vão todos perecer” (Lc 13,3).

Devemos ver, em João Batista, a própria Igreja, quando aponta os caminhos que precisamos endireitar em nós, na família, na sociedade e no mundo. O Batista nos ensina a ver as causas, o porquê alguém não anda na retidão, a não julgar somente pelas aparências. Ele denuncia: “Raça de víboras, produzi frutos”. João, isto é, a Igreja, vai ao encontro das pessoas para tirá-las do vazio em que se encontram pela falta de fé. Faz algumas interrogações: Quais coisas não andam direito? Por quê? Quais caminhos tortuosos estamos seguindo?

- Quem acolhe a voz de João Batista (Igreja)? Os descontentes consigo mesmos, com a sociedade, os que lutam, os que querem mudança, transformação: “Vinham... confessavam... eram batizados...”.

- Quem não acolhe? Os mantenedores da cultura da morte: “Raça de víboras, produzi frutos que provem a vossa conversão, vossa solidariedade e vosso serviço...”.

- Acolher Jesus é dar novo rumo às nossas vidas, traçar novos caminhos, “tomar a cruz e segui-lo”.

Deus vem a nós por meio de Jesus, para nos dar coragem e ânimo. Em Jesus, há um futuro melhor, há conserto, por maiores que sejam as tragédias, dificuldades e sofrimentos. Há esperança. Ele nos dá a garantia da vitória, mesmo se o placar do ‘jogo da vida’ nos for desfavorável, na fé, ao final, a vitória nos é assegurada. “Nele nós somos mais que vencedores”.

Neste advento, preparemo-nos para a chegada vitoriosa do Senhor. O Advento deve ser um tempo de grande preparação espiritual. A partir do Natal, Deus é revelado em Jesus: “Quem me vê, vê o Pai!” “Eu e o Pai somos um!” Natal é a esperança que se renova. “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e uma luz brilhou para os que viviam na região escura da morte”. Ou ainda: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no evangelho”.

Se, de fato, o ‘Verbo’ se tornar carne em nós, nós não iremos preparar somente a cidade, o externo, mas o coração para a visita ilustre que vem nos trazer benefícios: a salvação. Que imagem e ambiente comunicaremos? Que impressão Ele terá de nós?

Preparemos o coração ouvindo a Palavra, rezando individualmente, nos grupos, na comunidade.  A Palavra de Deus é a força para vencer o inimigo. “Um inimigo pode estar escondido em nossos aposentos”.

Preparamos o coração agindo, ajudando as pessoas: “Vocês não sabem que são templos de Deus e que o Espírito Santo de Deus habita em vocês?” Se alguém entrasse em nossos templos e violasse o Sacrário (sagrado), qual seria nossa reação? E o sofrimento das pessoas, não nos diz nada? O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja no mundo de hoje, nos diz: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS, 1).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá – PR