20 de Março de 2017

"Biomas: fonte de vida"

A Campanha da Fraternidade 2017 trata sobre os biomas brasileiros. Em seu texto base, a CF traz uma significativa reflexão sobre a temática.

“Biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que historicamente foram influenciados pelos mesmos processos de formação. No Brasil temos 06 biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira. Os biomas brasileiros sofrem interferências negativas desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, logo após Pero Vaz de Caminha ter escrito para o rei de Portugal afirmando que as “águas são muitas, infinitas. Em tal maneira graciosa (a terra) que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem”.

“Os colonizadores começaram a extração do pau-brasil usando, no início, a mão de obra escrava de indígenas e mais tarde dos africanos. Hoje, após mais de 500 anos daquela carta, o que restou da beleza natural descrita por Pero Vaz de Caminha? A Igreja Católica há algum tempo, tem sido voz profética a respeito da questão ecológica. Neste início do terceiro milênio, ter uma população de mais de 200 milhões de brasileiros, sendo mais de 160 milhões vivendo em cidades gera sérias preocupações. O impacto dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz problemas que põem em risco as riquezas dos biomas brasileiros”.

“À luz da fé, nos interrogaremos nas reflexões desta Campanha da Fraternidade de 2017 sobre o significado dos desafios apresentados pela situação atual dos biomas e dos povos que neles vivem. O Papa Francisco na encíclica Laudato SI explica que ‘cultivar’ quer dizer proteger, cuidar, preservar, velar. Isso implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. A criação pertence a Deus  (Sl 24; Lv 25,23). O homem, que é imagem e semelhança de Deus, recebeu a vocação de cuidar e guardar com atenção dos seres que dela fazem parte. ” (Texto Base da Campanha da Fraternidade)

Neste sentido, devemos por a mão na consciência diante do abuso absurdo de reduzir os biomas por causa do agronegócio. Grãos transgênicos que não dão segurança nenhuma para o consumo humano. Agora, por exemplo, se discute a soja safrinha, em vista, única e exclusivamente, da produção em alta escala, visando lucros, sem respeito nenhum à terra. Nesta semana nos meios de comunicação o grande tema foi a BR 160, saindo do Mato Grosso ao Pará. Grileiros e grandes fazendeiros comprando e desmatando enormes  áreas da Mata Atlântica para plantar soja. O critério único é a produção. No Paraná, a reserva chamada “Escarpas Devonianas” área de mata atlântica, que vai desde Ponta Grossa a Jacarezinho, está em discussão pois os fazendeiros e o agronegócio querem diminuir a área para o plantio de soja. São esse absurdos que a Campanha da Fraternidade quer que a população tome consciência e lute para que a vida na natureza seja preservada, e que a ecologia humana tenha condições de vida hoje e amanhã.

 

Dom Anuar Battisti

Arcebispo de Maringá