18 de Setembro de 2017

"Domingo e o descanso semanal"

A nossa tradição judaico-cristã formou a cultura ocidental com a perspectiva sadia e frutífera de conservar ao menos um dia da semana, reservado para o descanso. Para nós cristãos católicos este dia é o Domingo, o Dia do Senhor. Há outras tradições cristãs que guaram o sábado, ainda como os judeus. Pensei em escrever este artigo hoje, para que nós católicos possamos ter luz sobre este tema. Na região de Maringá, o fato da abertura dos supermercados aos domingos tem gerado muitas discussões. São diversos pontos de vista. Não cabe a mim dizer o certo e o errado. Cabe a mim, como pastor, orientar o nosso povo.

Para nós católicos, o Domingo é o dia da Ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo. O papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, vai lembrar que: “A participação na Eucaristia é especialmente importante ao domingo. Este dia, à semelhança do sábado judaico, é-nos oferecido como dia de cura das relações do ser humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo. O domingo é o dia da Ressurreição, o ‘primeiro dia’ da nova criação, que tem as suas primícias na humanidade ressuscitada do Senhor, garantia da transfiguração final de toda a realidade criada. Além disso, este dia anuncia ‘o descanso eterno do homem, em Deus’. Assim, a espiritualidade cristã integra o valor do repouso e da festa. O ser humano tende a reduzir o descanso contemplativo ao âmbito do estéril e do inútil, esquecendo que deste modo se tira à obra realizada o mais importante: o seu significado. Na nossa atividade, somos chamados a incluir uma dimensão receptiva e gratuita, o que é diferente da simples inatividade. Trata-se doutra maneira de agir, que pertence à nossa essência. Assim, a ação humana é preservada não só do ativismo vazio, mas também da ganância desenfreada e da consciência que se isola buscando apenas o benefício pessoal. A lei do repouso semanal impunha abster-se do trabalho no sétimo dia, ‘para que descansem o teu boi e o teu jumento e tomem fôlego o filho da tua serva e o estrangeiro residente’ (Ex 23, 12). O repouso é uma ampliação do olhar, que permite voltar a reconhecer os direitos dos outros. Assim o dia de descanso, cujo centro é a Eucaristia, difunde a sua luz sobre a semana inteira e encoraja-nos a assumir o cuidado da natureza e dos pobres” (Laudato Si, 237).

Não podemos tratar esta discussão apenas do ponto de vista econômico, pois sabemos que há muitas pessoas que dependem do trabalho aos domingos. Não se trata apenas de proibir ou permitir que os supermercados abram ou não. É mais amplo. Quando a sociedade consente em movimentar grandes setores econômicos aos domingos, parte desta sociedade pode até ter um relativo ganho capital financeiro, mas perde, ao olharmos o contexto pela perspectiva antropológica e sociológica em que nos relacionamos. Perde-se a grande oportunidade de se guardar o dia do descanso semanal em grande escala. Perdemos o jogo para algo tangível para quem comanda as grandes operações financeiras e deixamos de mensurar o intangível, que são as relações familiares, de descanso, de celebração nas igrejas etc. Isso não tem preço.

Quanto aos mercados, se há público consumidor lotando esses estabelecimentos aos domingos, é sinal de que o povo cristão católico não compreendeu a importância do domingo. Por outro lado temos os pequenos comércios de  bairro, que precisam sobreviver neste mundo de competição dos grandes mercados. Se os cristãos soubessem tal importância, não iriam às grandes compras aos domingos. Portanto, cabe a nós levantarmos a reflexão internamente para, ao mesmo tempo, propor à sociedade uma ampla reflexão sobre os imensuráveis prejuízos em se esgotar as possibilidades de termos um dia em comum, para o descanso coletivo. Quando os segmentos econômicos compreenderem que faz bem à economia ter este dia de repouso, talvez será tarde. Já do ponto de vista religioso, continuamos a proclamar: domingo é o Dia do Senhor!

 

Dom Anuar Battisti