08 de Abril de 2018

"A Misericórdia e a hipocrisia"

“A misericórdia salva-nos da hipocrisia da lei”. Essa afirmação vem do Papa Francisco e deixa-nos pensativos, pois a lei mata e o espírito que dá vida. Antes de mais nada o que deve interessar sempre é a verdade. Pois é a verdade que liberta, que leva a amar, que leva ao compromisso com o outro. É a verdade que garante os relacionamentos e fazem com que as relações sejam duradouras. É na verdade que se exerce a misericórdia, cujo sentido primeiro é carregar no coração os limites, as misérias do outro e as próprias.

Ter e ser misericordioso é o caminho do verdadeiro discípulo de Jesus. Por isso que somos interpelados a buscar a transparência em nosso ser, no nosso agir, pessoal e coletivo. A hipocrisia que sempre esteve muito presente em tudo, ainda hoje, precisa ser dominada pelas atitudes de misericórdia e reconciliação, como caminho para a convivência social e religiosa.

Foi uma bela decisão do Papa São João Paulo II instituir o segundo domingo da páscoa, como sendo o Domingo da Misericórdia. Iluminado pela experiência mística da freira, Santa Faustina Kovalsca, também polonesa, que vê Cristo Misericordioso  projetando raios coloridos do Seu coração, raios de amor e perdão para com todos aqueles que Dele se aproximarem. Essa imagem, que hoje corre o mundo, e tem como mensagem principal o coração misericordioso de Jesus que acolhe a todos e em todo o tempo. Por isso que hoje em todas as celebrações revivemos de forma simples esse amor sem medida de Deus em Jesus, que veio para dar a vida e a vida em plenitude para todos.

O Papa Francisco, em uma de suas audiências, disse: “As circunstâncias da vida podem fazer com que se cometam erros. Mas não se pense que os presidiários, são piores do que nós, porque todos somos pecadores, e por isso capazes de cometer os mesmos crimes de quem está na prisão. Não basta fazer o bem a quem nos faz o bem. Para mudar o mundo para melhor, é preciso fazer o bem a quem não é capaz de retribuir, como fez o Pai conosco, doando Jesus. Quanto pagamos pela redenção? Nada, é gratuita. Assim como fez o Pai, devemos fazer o bem gratuitamente”.

Como caminho para construir relações verdadeiras,  esta  dinâmica do amor sem medida, do amor marcado pela superação das diferenças e dos desencontros. Longe de qualquer situação humana a busca de interesses pessoais, de negociar a liberdade de consciência, de burlar os comportamentos, de gerar hipocrisia nos corações. Nada melhor do que viver sem apegos, sem culpas, sem artimanhas, sem aparências, deixando cair todas as máscaras que impedem o verdadeiro perdão misericordioso de Deus, entre nós.

“Peço ao Senhor a graça que o nosso coração seja simples, luminoso com a verdade que Ele nos dá, e assim possamos ser amáveis, perdoar, compreensíveis com os outros, de coração amplo com as pessoas, misericordiosos. Jamais condenar, jamais condenar! Se temos vontade de condenar, condenemo-nos a nós próprios. Peçamos ao Senhor a graça de sentir-nos pecadores para nos aproximar cada vez mais da misericórdia de Deus, e ser misericordiosos com nossos irmãos”.


Dom Anuar Battisti