25 de Fevereiro de 2016

"Lixo e cidadania: Responsabilidade e compromisso"

Na Encíclica “Laudato si” o papa Francisco diz ser necessário não somente análises e sim propostas de diálogo e de ações que “nos ajudem sair da espiral da autodestruição onde nos estamos afundando” (163).  “Há discussões sobre questões relativas ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. A Igreja não pretende definir questões científicas, nem substituir à política, mas convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou ideologias não lesem o bem comum (188).

Diante da grave crise do lixo em Maringá – que se prolonga há anos, inclusive com decisões judiciais sobre o assunto – a Igreja, com outras entidades da sociedade civil, inclusive a comunidade acadêmica, apresentou um projeto simples, barato e perfeitamente viável para solucionar este desafio que é de todos nós. Somos parceiros neste empreendimento que vem dar uma resposta concreta para o clamor de uma ecologia integral, respondendo a grande e fundamental pergunta: O que podemos e devemos fazer?

As grandes conferências internacionais sobre o “meio ambiente dos últimos anos não respondem às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes” (166). Diante desta grave constatação uma pergunta colocada no inicio da Carta Encíclica precisa de uma resposta: “Para que se quer preservar hoje o poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo?” (57). Por isso que os caminhos de “Proteção ambiental não podem ser assegurado apenas com base no cálculo financeiro de custos e benefícios” (190).

“Particularmente significativo é o apelo dirigido àqueles que detêm o poder político, para que se distanciem da lógica ‘eficientista e imediatista’ mas é preciso ter a coragem de fazer, assim poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade” (181). Não somos apenas seres em trânsito por este mundo; queremos deixar uma marca histórica não pelo que falamos ou possuímos, nem mesmo pelo poder com que fomos constituídos, mas sim pelo testemunho fundado na defesa incansável do bem comum.

Não é fácil reformular hábitos e comportamentos e muito menos quando nos sentimos donos da verdade, ou medindo força política para ser o maior e mais poderoso. Quem sempre sai perdendo é a sociedade, e principalmente os mais pobres. A felicidade, diz o papa, “exige saber limitar algumas necessidades que entorpecem” (223). “É possível sentir que precisamos uns dos outros, que temos responsabilidades para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos”(229).

Quanto ao nosso lixo, precisamos consumir menos, separar o lixo e reciclar. Fazer isso não custa caro.

À luz das orientações desta maravilhosa carta queremos assumir cada vez mais o compromisso de pequenas ações, nos reeducando para o amor pelo chão da terra e pelo ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus.

 

Dom Anuar Battisti é arcebispo de Maringá