25 de Fevereiro de 2016

"Semana Santa. Quem sabe seja a última"

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Com o Domingo de Ramos, também chamado Domingo da Paixão, iniciamos as celebrações que vão culminar na Paixão, Morte e Ressureição do Senhor Jesus. Esse caminho da páscoa do Senhor e da nossa páscoa tem cinco significativos movimentos, tendo nosso olhar fixo “em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição. Em vista da alegria que o esperava, Jesus suportou a cruz, não sem se importar com a infâmia, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12,2).

Os cinco movimentos marcam as etapas de todo caminho de fé, que encontra seu modelo neste itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão dos ramos atrás da cruz do Senhor: em Jesus crucificado a assembleia reconhece e proclama o vencedor da morte e o guia do seu caminho.

O segundo acontece na Quinta-feira Santa, com a celebração da Ceia do Senhor e do lava pés. Recordando que Jesus não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,22).

Também na Quinta-feira Santa recordamos a instituição do sacerdócio, por isso, pela manhã na Catedral, somente na Catedral, o Bispo com todo o Presbitério celebra a renovação do compromisso sacerdotal e a benção do óleo do Batismo, do Crisma, e da Unção dos Enfermos.

O terceiro momento acontece na Sexta-feira Santa, quando, ao celebrar a Paixão do Senhor, às 15h, rezando as preces para a Igreja e o mundo, toda assembleia caminha em procissão para honrar e beijar, com devoção e amor, a cruz.

A cruz é transformada de patíbulo em árvore da vida e trono da glória de Cristo. O momento é de gratidão e não de choro e lamentos. Jesus sofreu uma vez só já não sofre mais fisicamente. A paixão de Cristo continua em nós, como afirma o apóstolo das nações: “Complete em mim o que falta à paixão de Cristo” (Cl 1,24).

O quarto movimento é a solene Vigília Pascal. A assembleia se põe a caminho atrás do Círio Pascal, única luz nas trevas da noite e, ao acender as próprias velas no mesmo Círio, se deixa iluminar pela luz de Cristo ressuscitado.

É na luz de Cristo que os fiéis aprendem a enfrentar os desafios da vida e por ela se deixam guiar. Assim, o primeiro gesto ritual com o qual, no Domingo de Ramos, o povo de Deus se reúne para iniciar a celebração da Páscoa do Senhor, exprime, em síntese, a totalidade do Mistério Pascal de Cristo e o profundo envolvimento nele, na fé e no amor, de cada pessoa e da Igreja inteira.

O quinto movimento é a notícia trazida pelas mulheres na madrugada do terceiro dia. “Roubaram o corpo do Senhor o túmulo está vazio”. Desde sempre a Igreja, povo de Deus a caminho, celebra, impelido pelo Espírito, em movimento através das vicissitudes da história, rumo à plenitude do reino de Deus.

Toda a comunidade que celebra com fé a Páscoa do Senhor, da Catedral à mais simples capelinha da periferia das nossas cidades, e até à comunidade ribeirinha da Amazônia, vive seu momento forte e profético do povo de Deus a caminho, gerado de maneira sempre nova pela Páscoa de Jesus.

Nossa vida unida a Cristo é a verdadeira oferta que em cada missa é colocada sobre o altar, junto com o pão e o vinho, para que não somente o que está contido na patena e no cálice, mas toda a vida, e até a criação, seja oferecida ao Senhor e transformada no culto espiritual agradável ao Pai Deus.

Feliz e abençoada Semana Santa a todos vocês que decidiram ficar, e a vocês que vão viajar. Não deixem de reviver lá onde estarão esses dias santos, porque podem ser os últimos.

Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá-PR