25 de Fevereiro de 2016

"Todos nós estamos percorrendo um caminho na terra"

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Sentido cristão da morte

“A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado ‘o único curso de nossa vida terrestre’, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. ‘Os homens devem morrer uma só vez’ (Hb 9,27). Não existe ‘reencarnação’ depois da morte”. (Catecismo da Igreja Católica nº 1013).

Todos nós estamos percorrendo um caminho na terra, com a certeza de que a morte não é o fim, e sim passagem para a verdadeira vida. Como afirma o Apóstolo: “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 1,11). Viver e morrer em Cristo é o sentido da nossa existência. Para que criar reinos até às extremidades da terra? Nosso caixão não tem gavetas. Vale viver e morrer considerando tudo lixo diante do conhecimento de Nosso Senhor. Quem sabe chegaremos lá.

“Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: ‘O meu desejo é partir e ir estar com Cristo’ (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um ato de obediência e de amor ao Pai, a exemplo de Cristo: Meu desejo terrestre foi crucificado; (…) há em mim uma água viva que murmura e que diz dentro de mim: ‘Vem para o Pai’. Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer. Eu não morro, entro na vida” (Catecismo da Igreja Católica 1011).

O sentido cristão da morte nós recordamos bem na Liturgia da missa nos funerais quando dizemos: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”.

Ao mesmo tempo, que nós nos preparamos para este momento, também não queremos que chegue logo. O medo desta passagem ser traumática é que nos deixa sem desejos deste encontro definitivo. Mesmo sabendo que não existe outro caminho, humanamente não queremos nem pensar na morte, e esquecemos o seu verdadeiro sentido.

No comboio da vida, temos a oportunidade de encontrar pessoas que amamos e que de repente na estação seguinte a gente perde. Outras entram no mesmo vagão e os encontros e desencontros vão abrindo caminhos e relacionamentos, para uma nova experiência de amar e ser amados.

O vazio deixado sempre é preenchido por algo ou alguém que de fato amamos. À vezes precisamos passar de um vagão ao outro para sair da mesmice rotineira de quem pensa que já fez tudo. Nos trilhos em que deslizam os vagões deste comboio, só tem paradas onde uns entram e outros ficam. O fim de todas as estações será a eternidade.

Aqui perdemos e aqui ganhamos. É nesta vida que conquistamos o paraíso. Não estamos sozinhos nem aqui e muito menos lá. Por isso no dia de finados visitamos o cemitério, levamos flores em homenagem e sinal da beleza perfumada da outra vida, oferecemos orações porque acreditamos na Palavra que diz: “Bom e salutar orar pelos mortos”. Enfim, queremos que seja assim na terra como no céu, hoje e sempre.

Dom Anuar Battisti

Arcebispo de Maringá