15 de Abril de 2016

"Pecadores, sim. Corruptos não!"

Lendo e relendo o último livro do papa Francisco sob o titulo: “O nome de Deus é misericórdia”, me detive em alguns textos onde responde as perguntas do jornalista italiano Andrea Tornielli, de forma direta, sem preconceitos ou temores. Ao mesmo tempo que tem ideias claras sobre todos os assuntos, ele sempre deixa um “gostinho de quero mais”. Diante da pergunta: “O senhor disse durante uma homilia na Casa Santa Marta: Pecadores, sim. Corruptos não! Que diferença existe entre pecado e corrupção? O papa responde dizendo: “A corrupção é o pecado que, em vez de ser reconhecido como tal e de nos tornar humildes, é transformado em sistema, torna-se um hábito mental, um modo de viver. Não nos sentimos necessitados de perdão e de misericórdia, mas justificamos a nós mesmos e aos nossos comportamento”.

O papa continua: “Jesus diz aos discípulos: se alguém te ofende sete vezes ao dia e sete vezes volta a ti para pedir perdão, perdoa-lhe. O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado por causa de sua fraqueza, encontra novamente perdão, desde que se reconheça necessitado de misericórdia. O corrupto, ao contrário, é aquele que peca e finge ser cristão, e com a vida dupla provoca escândalo. O corrupto se cansa de pedir perdão e acaba por acreditar que não deve pedir mais. Não se transforma de repente em corrupto; existe um longo caminho de declínio, para o qual se desliza e que não se identifica simplesmente com uma série de pecados. Alguém pode ser um grande pecador e no entanto, pode não ter caído na corrupção”.

Na resposta o papa cita alguns exemplos de conversão: “Mateus, Zaqueu, Nicodemos, o bom ladrão…estavam abertos ao perdão, os seus corações reconheciam as suas própria fraquezas e foi ali que entrou  a força de Deus. O corrupto, por sua vez esconde aquilo que o torna escravo, e disfarça o seu vício com boa educação, encontrando sempre um modo de salvar as aparências”. “O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada em por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas: passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua dignidade e da dignidade dos outros. O corrupto tem sempre  a cara de quem diz: ‘ Não fui eu’. Aquela que minha avó chamava de ‘cara de santinho.’”

“O corrupto faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade, a beleza. Não é fácil o corrupto sair dessa condição por remorso interior. Geralmente o Senhor salva por meio de grandes provas na vida, permitindo assim a graça de Deus entrar. Temos que repetir: pecadores, sim. Corruptos, não! Pecadores, sim. Como dizia o publicano no templo, sem ter nem mesmo a coragem de levantar os olhos ao céu. Pecadores, sim, como Pedro se reconheceu, chorando amargamente após ter negado Jesus. Pecadores, sim.

Como sabiamente nos faz reconhecer a Igreja no início de cada missa, quando somos convidados a bater no peito, ou seja a reconhecer-nos necessitados de salvação e de misericórdia. Temos que rezar, de forma especial durante este jubileu da Misericórdia, para que Deus abra uma fresta também nos corações do corruptos, dando-lhes a graça de vergonha, a graça de se reconhecerem pecadores e necessitados do Seu perdão”. (O nome de Deus é misericórdia, Papa Francisco pgs.117 a 122)

Que Deus abençoe a nossa semana e que o Espírito Santo, que renova todas as coisas, faça renascer em nossa cultura a graça da honestidade, do combate à corrupção. Que Deus abençoe a nossa cidade, nosso estado e nosso país.

 

Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá-PR