Reflexão: Liturgia do XII Domingo do Tempo Comum – 23/06/2019

21 de Junho de 2019

"Reflexão: Liturgia do XII Domingo do Tempo Comum – 23/06/2019"

"Em Ti, todos os povos serão abençoados"


Na Liturgia deste Domingo, XII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Zc 12, 10-11; 13,1), que Jerusalém, considerada como centro do mundo, é o lugar onde Deus mostra sua compaixão e proteção ao povo ‘transpassado’ pelo sofrimento causado por tantas violações dos seus direitos fundamentais. Deus é solidário com o povo arrasado que chora, lamenta e clama a misericórdia. Deus purifica e derrama sua graça para que todos voltem o olhar para Ele. Jerusalém, com a vida nova adquirida por intervenção divina, transforma-se em fonte de bênção e salvação. Jesus morre e é ‘transpassado’ em Jerusalém. Jesus torna-se fonte de bênção e salvação para toda humanidade, nEle e para Ele todos voltarão seus olhos. Jerusalém é a Igreja, a Comunidade e, também, o nosso coração quando ama, perdoa e acolhe com misericórdia os que sofrem.


Na 2ª Leitura (Gl 3, 26-29), o apóstolo Paulo afirma que, pelo batismo, fomos revestidos de Cristo. Por isso, devemos renunciar à vida velha do egoísmo e do pecado, para viver a vida nova da entrega a Deus e do amor aos irmãos. Pelo batismo, acabam as barreiras entre as pessoas e os povos, agora há uma unidade entre todos os filhos de Deus. Caem os limites étnicos que separavam os povos, rompem-se as divisões sociais discriminatórias, acaba o machismo que subjugava a mulher. Realiza-se o sonho de uma nova humanidade.


No Evangelho (Lc 9, 18-24), vemosqueJesus está a caminho de Jerusalém e, então, pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Quais foram as respostasdas multidões, de Pedro (lideranças) e da elite no poder (anciãos, doutores da Lei, chefes dos sacerdotes)? Conforme cada visão de Deus, resultará uma prática de vida, uma opção, um testemunho. Sabemos que onome de Deus está ligado a um Projeto (CIC 203-213). Deus se revela, se autodefine aos homens. Não é o homem que cria (define) Deus (como era o caso dos gregos e romanos). “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo... ouvi seu clamor... conheço seus sofrimentos... desci para libertá-lo.” (Ex 3,7-10). “O que vou responder?... Eu Sou aquele que Sou... este é meu nome” (Ex 3,13-17).


Deus, ao se revelar, mostra sua proposta (Projeto) para o homem e a sociedade.Este Projeto, Deus revelou, de maneira especial, por meio dos profetas no Antigo Testamento. Podemos ilustrar este Projeto com o exemplo do texto de Isaías 65, 17-25, que diz:

- haverá novo céu e nova terra;

- não haverá mais choro e clamor;

- não haverá morte prematura;

- construirão casas e nela habitarão;

- plantarão e comerão seus frutos;

- ninguém gerará filhos para viverem na humilhação;

- haverá harmonia entre o homem e a natureza.


Jesus, ao se revelar (em comunhão com o Pai e o Espírito Santo), continua com o mesmo Projeto de vida e dignidade para todos (Lc 4,16-21). Jesus confirma esse Projeto quando diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse Projeto se concretizará quando atingirmos a mentalidade ‘crística’, isto é, “quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11).

Em Mateus 9,35-38, Jesus estava comprometido com um Projeto de libertação integral do ser humano, por isso vai ao encontro dos mais excluídos (povoados, periferias, margem). Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas, como ovelhas sem pastor (sem rumo, sem horizonte etc.).

Então, Ele chama mais pessoas para este Projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética; quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo.

Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, “os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais” (DA, 501).


Este projeto do Reino de Deus deve continuar na vida da comunidade: Mt 5,13-16 e 1Pd 2,9-12: “Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para resgatar seu Projeto”. Uma necessidade, um chamado na história.


Qual a função de Pedro (Lideranças)?

Pedro somos todos nós: somos capazes do melhor e do pior ao mesmo tempo.

Do pior: só aceitamos Jesus quando Ele atende nossas necessidades mais urgentes, quando queremos um Jesus de sucesso, de espetáculo, sem cruz, messias, rei poderoso, triunfante e não servo sofredor. Quando Ele exige nosso compromisso, desaparecemos. Enfim, queremos mudar Jesus e defini-lo conforme nossos caprichos.

Do melhor: quando damos continuidade a seu projeto. “Tu és o Messias, O Filho do Homem” (estar consciente, pés no chão, comprometido, abraçando a nossa condição humana).


Não lutar pela justiça social é profanar o nome de Deus. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para esta pessoa.

Ser povo de Javé significa ser um povo em que não há opressão como no Egito; o irmão não explora o irmão; reinam a justiça, o direito e a verdade; a lei dos dez mandamentos é observada; o amor ao próximo é igual ao amor a Deus; o povo vive e celebra a sua fé, e louva a Deus pelas suas maravilhas. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo.


Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.



Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá