Reflexão: Liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum, Ano C – 22/09/2019

18 de Setembro de 2019

"Reflexão: Liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum, Ano C – 22/09/2019"

Reflexão: Liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum, Ano C – 22/09/2019

Gestão correta da própria vida: o uso correto dos bens e dos meios

Na Liturgia deste Domingo, XXV do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Am 8, 4-7), que o profeta Amós faz uma crítica inflamada aos que ‘compram os pobres por dinheiro’. Deus reprova toda tentativa de enganar os pobres e toma a defesa deles. Deus não fica indiferente diante disso: "Não esquecerei nenhum de vossos atos".

Na 2ª Leitura (1Tm 2, 1-8), o apóstolo Paulo insiste na oração da comunidade, oração de agradecimento e intercessão por todas as pessoas, pois Deus quer a salvação de todos. A oração deve ser expressão de comunhão com Deus e com os irmãos. Quando rezamos, mergulhamos no projeto de Deus. E o primeiro efeito da oração é sobre nós mesmos, nós mudamos para melhor; aquilo que pedimos de bem e de bom aos outros virá cem vezes mais sobre nós, nós reforçamos esses valores em nossa interioridade, por isso, também, podemos chamar a oração de psicoterapia: psíquico = alma, interioridade, terapia = tratamento; portanto a oração é a cura da alma, isto é, faz efeito nos outros, mas muito mais em nós mesmos.

No Evangelho (Lc 16, 1-13), vemos que Jesus elogia o comportamento do administrador, mas não aprova a atitude fraudulenta (adquiria bens em prejuízo dos outros, acumulava com injustiça). Não propõe como modelo tudo o que o administrador da parábola fazia, mas ressalta a sua astúcia em garantir o seu futuro, sua previdência, pois, em situação de risco de perder o cargo, usa de esperteza, inteligência e criatividade, previne-se, não desanima, isto é, muda a estratégia quanto ao futuro. Na época, o administrador não era remunerado, ganhava comissão; então, prevendo situação adversa, priva-se do benefício em prol de fazer amigos.

Jesus alerta que falta essa sabedoria aos ‘filhos da luz’ que não tomam consciência diante dos graves problemas que colocam em risco o futuro e a salvação. A lição que fica é que devemos dar preferência àquilo que combina com o projeto de Deus, o uso correto dos bens e dos meios. Isto é, a gestão correta da própria vida, os bens são dons tanto na origem, quanto na destinação. “A vida não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração” (Sêneca).

Se formos administradores dos bens deste mundo, não devemos nos apegar a eles de forma absoluta; mesmo que eles decorram do direito natural, não devem impedir o bem maior que é a salvação eterna. “A propriedade faz parte da natureza do homem e da natureza das coisas. Como o trabalho, ela encerra um mistério; é a projeção da personalidade humana sobre as coisas. A pessoa tende à propriedade por um impulso instintivo, do mesmo modo que nossa natureza animal tende ao alimento. O apetite da propriedade é tão natural à nossa espécie como a fome e a sede; apenas é de notar que estes são apetites da nossa natureza inferior, ao passo que aquele procede da nossa natureza superior. Todo homem tem alma de proprietário, mesmo os que se julgam inimigos da propriedade. É isto que se entende quando se afirma que a propriedade decorre do direito natural” (R. G. Renard, apud Curso de Doutrina Social da Igreja, Escola Mater Ecclesiaee, p. 136-137).

A Bíblia nos apresenta numerosos exemplos de pessoas que, em meio às riquezas, se tornaram amigos de Deus. São Basílio de Cesaréia nos aconselha a ser administradores espertos dos bens e não proprietários. Porque, diz ele: “Ao faminto pertence o pão que conservamos; aos nus, o manto que mantemos guardado; ao descalço, os sapatos que estão se estragando em nossa casa; e ao necessitado, o dinheiro que escondemos” (Homilia sobre São Lucas - 12,16-21).

Jesus não condena a riqueza e sim o mau uso que dela se faz, pois muita gente serve ao dinheiro e não se serve do dinheiro para servir a Deus e aos irmãos: para ganhar mais dinheiro, há quem trabalha doze ou quinze horas por dia, num ritmo de escravo, e esquece-se de Deus, da família, dos amigos e até da própria saúde. Por dinheiro, há quem venda a sua dignidade, a sua consciência e renuncie a princípios em que acredita. Por dinheiro, há quem não tem escrúpulos em sacrificar a vida ou o nome dos seus irmãos. Por dinheiro, há quem é injusto, explora os operários, se recusa a pagar um salário justo etc. Por dinheiro, muita gente corrompe e outros se deixam corromper.

Quanto a nós, peregrinos neste mundo, não serviremos ao dinheiro, mas o usaremos para servir o único Senhor, pois sabemos que “onde estiver nosso tesouro, lá estará também nosso coração”.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá