Reflexão litúrgica: sexta-feira, 22/03/2024 – 5ª Semana da Quaresma

21 de Março de 2024

"Reflexão litúrgica: sexta-feira, 22/03/2024 – 5ª Semana da Quaresma"

DEUS É QUEM ESCOLHE, CAPACITA, ENVIA E PROTEGE 

Na Liturgia desta sexta-feira, V Semana da Quaresma, vemos, na 1ª Leitura (Jr 20,10-13), o íntimo de alguém que se entregou à missão profética, o confronto de sua missão com as estruturas decadentes da época. Zanga-se com Deus, acusa-o de sedução, maldiz o dia em que nasceu e, após a experiência com Deus, reconcilia-se e começa a ver sua história a partir da fé. A missão não será fácil, mas Deus estará com ele. 

O texto mostra que, em tempos difíceis, Deus suscita Profetas. O Profeta é a consciência crítica do povo e alguém que se fortalece pela palavra de Deus para denunciar tudo o que causa sofrimento às pessoas. O Profeta é aquele que faz a leitura divina dos acontecimentos humanos. É o responsável, para Deus, diante das pessoas, e das pessoas, diante de Deus. Igual Jesus Cristo, o Profeta “é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67). O Profeta é o homem da Aliança, mas também o homem da esperança; não é vidente e nem prevê catástrofes, anuncia as exigências do Evangelho, confronta-as com a realidade. É um crítico das pessoas e das sociedades. Por ter uma consciência mais profunda, ele questiona, denuncia, confronta, exige e, muitas vezes, com suas palavras, ‘choca’ os legitimadores dos sistemas vigentes, por isso nem sempre é ouvido, sofre a perseguição e a solidão. Como no tempo de Jesus, sua terra e seu meio não o compreendem. Então, só resta recorrer e até ‘reclamar’ com Deus: 

“Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo. Sou objeto de contínua zombaria... olho ao redor e vejo violência e devastação... Não mais o mencionarei e nem falarei em seu nome. Mas em meu seio havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo, e não o consegui... Maldito o dia em que nasci! Nem abençoado seja o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que levou a notícia a meu pai e que o cumulou de felicidade ao dizer-lhe: Nasceu-te um menino! Por que não me matou, antes de eu sair do ventre materno?! Minha mãe teria sido meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí do seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?” (Jr 20,7-18). 

Mas, o Profeta, embora, algumas vezes, caia num grande sofrimento, não se deixa abater ou atingir, ele tem consciência de que o chamado é de Deus: “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1,4-5). 

Ele não age por si, age em nome de Deus, é um porta-voz credenciado: “Comunica-lhes tudo o que eu te mandar dizer. Não tenha medo deles” (Jr 1,7-8). 

Vive mergulhado em conflitos, mas não é enviado para a derrota: “Faço de ti uma fortaleza, uma coluna de ferro e muro de bronze, diante dos reis de Judá e seus chefes, diante de seus sacerdotes e de todo o povo da nação” (Jr 1,9-10). 

Enfrenta o poder: político, econômico e religioso: “Eles farão guerra contra ti”.  

Mas ele tem Deus como seu aliado: “Não prevalecerão, porque estou contigo, para defender-te”.  

A vitória é do Deus da vida. “Se o Senhor é por nós, quem será contra nós. N’Ele nós somos mais que vencedores” (Rm 8,31-39).  

A partir desta leitura, também nós não tenhamos medo de dizer sim a Deus, pois é Ele quem escolhe, capacita e protege. 

No Evangelho (Jo 10,31-42), vemos que a fé é uma presença viva no meio da humanidade, de alguém que caminha conosco e nos propõe vivermos a sua vida. A fé é acolhida deste dom, dessa nova vida. Quem assim se oferece a nós é Deus, Deus em Cristo tomou um semblante que o ser humano pode conhecer. O ser humano tem necessidade de um rosto, para encarar aquilo que o move. Cristo é o rosto e a verdadeira imagem do Pai. A fé não é uma ideologia, não é um comportamento; é o encontro com Cristo, Filho de Deus. Por isso Cristo insiste em sua união com o Pai, que faz deles um só. Em Cristo também nós somos um só corpo que é a Igreja.  


Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus. 


Pe. Leomar Antonio Montagna 

Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR  

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR