Dom João Mamede faz novo apelo: “Fique em casa!”

28 de Março de 2020

Dom João Mamede faz novo apelo: “Fique em casa!”

Neste sábado, 28 de março de 2020, o Administrador Apostólico da Arquidiocese de Maringá, Dom João Mamede, gravou nova mensagem ao Povo de Deus pedindo que os fiéis católicos fiquem em casa.

Em sua fala, Dom Mamede reconhece a angustia dos comerciantes que precisam abrir seus estabelecimentos para vender e pagar suas contas. “Sabemos quão grande é a preocupação dos comerciantes, das pequenas e médias empresas, que não sabem se depois da pandemia ainda poderão manter seus empreendimentos e pagar o salário de funcionários. Acreditem, não nos é fácil pedir a vocês: fechem as portas; fiquem em casa!”

Outro destaque na fala de Dom Mamede é a questão financeira que envolve a própria instituição Igreja, pois a baixa na contribuição do dízimo também afeta as estruturas eclesiais.

 “Também a Igreja tem funcionários. E ela depende de doações, das coletas das missas e do dízimo de cada fiel. Fechando as portas sabemos que os aportes vão diminuir. Pensar nas dificuldades pelas quais passam nossos colaboradores e suas famílias também nos atrapalha o sono. Mas estamos convictos de que este é o melhor caminho neste momento. Se necessário vamos suspender projetos. Nós, bispos e padres, vamos até reconsiderar nossa ajuda de custo, que se chama côngrua, para garantirmos a segurança e o sustento de nossos colaboradores”, afirma.



Veja a nota de Dom João Memede Filho na íntegra e em vídeo



Queridos filhos e filhas

Eu gostaria de iniciar essa nossa conversa com um texto bíblico tirado do livro de Deuteronômio capítulo 30, versículo 19 que diz: “Diante de ti ponho a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois a vida, para que vivas tu e tua descendência” (Dt 30, 19).

Um turbilhão de notícias nos mostra a todo momento os efeitos da pandemia que assola o planeta ceifando vidas e deixando um rastro de desolação e sofrimento. Diante desse cenário internacional, nos assusta ainda mais a postura de pessoas que, não temendo por suas próprias vidas, colocam também em risco a vida de tantas outras.

Sabemos quão grande é a preocupação dos comerciantes, das pequenas e médias empresas, que não sabem se depois da pandemia ainda poderão manter seus empreendimentos e pagar o salário de funcionários. Acreditem, não nos é fácil pedir a vocês: fechem as portas; fiquem em casa!

O que nos move a insistir neste caminho é que, optando por ficar em casa e manter as empresas e comércios fechados, pode ser que daqui há algum tempo vocês não consigam pagar integralmente os salários dos seus funcionários, nem honrar com todos os seus compromissos financeiros, porém estaremos vivos. E estando vivos, poderemos contar com a solidariedade uns dos outros, as dívidas poderão ser renegociadas e aos poucos nos reergueremos de nossa derrocada.

Já temos exemplos suficientes, em vários países do mundo, que nos ajudam a enxergar que quando não optamos pelo isolamento social e insistimos em manter a economia funcionando no padrão da “normalidade”, o que colhemos de tudo isso é a morte. Basta olhar o exemplo de Milão, -norte da Itália- onde a propaganda era: Milão não para! A situação ficou tão grave que o prefeito de lá, movido pelo peso de sua consciência, veio a público pedir desculpas à população. Pena que o pedido de desculpas, -gesto que tem sua nobreza-, não traz de volta tantas vidas que se foram...

Assusta-nos demais, corta-nos o coração e movem-nos a insistir no pedido, “fechem as portas, fiquem em casa”, as cenas de caminhões do exército entrando em cidades italianas para transportar inúmeros corpos de vítimas e cremá-los alhures: elas já não são mais capazes de enterrar seus mortos. Crematórios e cemitérios estão saturados, em colapso!!!

Não queremos ter que chorar a dor dos nossos mortos para depois dizer, estávamos errados, devíamos ter ficado em casa. De que adiantaria termos salvo as nossas empresas se tivermos perdido nosso bem mais precioso, nossos familiares e amigos? E porque não dizer, até fregueses e clientes?

Não pensem que estou fazendo um discurso para os outros. O mesmo apelo que a Igreja faz à sociedade ela o faz a si mesma: fechem as portas; fiquem em casa! Também a Igreja tem funcionários. E ela depende de doações, das coletas das missas e do dízimo de cada fiel. Fechando as portas sabemos que os aportes vão diminuir. Pensar nas dificuldades pelas quais passam nossos colaboradores e suas famílias também nos atrapalha o sono. Mas estamos convictos de que este é o melhor caminho neste momento. Se necessário vamos suspender projetos. Nós, bispos e padres, vamos até reconsiderar nossa ajuda de custo, que se chama côngrua, para garantirmos a segurança e o sustento de nossos colaboradores e das famílias mais pobres que dependem mensalmente da nossa assistência.

Reiteramos aqui nosso apoio às autoridades públicas que têm feito a opção de salvar vidas, mesmo à custa de incompreensões, protestos e até ameaças. Para além do nosso apoio moral, já disponibilizamos equipamentos que possam suprir eventuais faltas de espaço para atendimento dos atingidos pelo vírus.

Por fim, dirijo-me a todos os fiéis católicos. Oxalá pudesse eu me dirigir a todos os cristãos. A vocês eu peço: fechem as portas; fiquem em casa!

Fechar as portas de nossos templos, ao contrário do que muitos pensaram, não significou abandonar o sagrado, ou virar às costas para os fiéis, nesse tempo tão difícil. Nestes tempos de portas fechadas, tenho visto surgir tantas iniciativas belas por parte de nossos padres/pastores, religiosos e lideranças leigas.

Nunca tivemos tanta adoração ao Santíssimo Sacramento, missas e cultos transmitidos online, momentos de oração em família, catequese online ou domiciliar e tantas outras criatividades. Quando os fiéis não podem ir à igreja, acabam sendo mais igreja, a partir de seus próprios lares.

Neste tempo de quaresma, convido todos a continuarmos em quarentena, rezando e confiando. Em breve celebraremos a Páscoa da ressurreição, trazendo vida nova para toda criação.

Assim como Jesus ressuscitado rompeu a pedra que o fechava no túmulo, anunciando a vitória da vida sobre a morte, também nós romperemos as portas de nossas casas para cantar a vitória da vida sobre o poder destrutivo do coronavírus, que agora nos obriga ao recolhimento.

Contudo até a chegada deste dia: fiquemos em casa.

Que o Deus de amor e ternura, por intercessão da Senhora de Aparecida, nossa mãe querida, vos abençoe: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém.



Dom João Mamede Filho

Administrador Apostólico da Arquidiocese de Maringá