Opinião: Comunhão eclesial e comunhão sacramental

04 de Dezembro de 2020

Opinião: Comunhão eclesial e comunhão sacramental

Paz e graça a todos os católicos e homens e mulheres de boa vontade!

O medo em definitiva sempre é o medo da morte, pois a morte é o mal extremo que pesa sobre a vida. Diante deste quadro caótico de pandemia pelo qual estamos vivendo, como cristãos temos que defender a vida a exemplo de Jesus: “O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Diante dessa proposta de Jesus, a Arquidiocese de Maringá, por meio do arcebispo Dom Frei Severino Clasen, em comunhão com todo o presbitério, seguindo o Decreto Municipal “suspendeu” provisoriamente a missa presencial com o intuito de ajudar a diminuir os casos de Covid-19 em Maringá e região. Toda vida importa! Por isso o Pacto pela Vida.

A Igreja Católica da Arquidiocese de Maringá não está promovendo nem apoiando nenhuma “Carreata pelas Missas” como aparece em algumas mídias. Se a Igreja Católica de Maringá não está promovendo nem apoiando, tal manifestação, logo... quem está promovendo ou apoiando não está em Comunhão com ela e falta-lhes a Caridade.

Desde o início do cristianismo a Comunhão e a Caridade são elementos constitutivos da eclesiologia Católica romana. De todas as graças, a caridade é a mais elevada, sua ausência quebra a comunhão eclesial e sacramental.

A Igreja Católica está presente em sua universalidade e totalidade em cada uma das Igrejas que a compõem. A menor parcela da Igreja Povo de Deus é a Diocese em cada uma de suas paróquias, unidas ao bispo formando no conjunto a catolicidade da Igreja:

Os Bispos, com sucessores dos Apóstolos, recebem do Senhor, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra, a missão de ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda a criatura, para que todos os homens se salvem pela fé, pelo Batismo e pelo cumprimento dos mandamentos (Mt 28,18; Mc. 16, 15-16; At. 26, 17). Para realizar esta missão, Cristo Nosso Senhor prometeu o Espírito Santo aos Apóstolos e enviou-o do céu no dia de Pentecostes, para, com o Seu poder, serem testemunhas perante as nações, os povos e os reis, até aos confins da terra (At. 1,8; 2,1 ss.; 9,15). Este encargo que o Senhor confiou aos pastores do Seu povo é um verdadeiro serviço, significativamente chamado “diaconia” ou ministério na Sagrada Escritura (At. 1, 17 e 25; 21-19; Rom. 11, 13; 1 Tim. 1,12)  (Lumen gentium 23-24).

Minha reflexão, parte da premissa de que a Comunhão/Koinonia e a Caridade/Caritas são elementos constitutivos da Igreja e quem rompe, ou não está em comunhão com ela, na sua particularidade eclesial, não está em comunhão com a Igreja de Jesus Cristo em sua universalidade...

Santo Ambrósio e os demais padres tinham claro que onde está Pedro, aí está a Igreja: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”. Parafraseando Ambrósio e se pautando em Santo Inácio de Antioquia bispo e mártir da Igreja, podemos afirmar, que onde está o bispo, o presbítero e o diácono aí está a Igreja de Jesus Cristo:

“Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai e ao colégio dos presbíteros como aos apóstolos; enquanto aos diáconos, reverencie-lhes como aos mandamentos de Deus. Que ninguém, sem contar com o bispo, faça qualquer coisa que pertença a Igreja. Só aquela Eucaristia se pode considerar válida, aquela celebrada pelo bispo ou por quem ele tenha dado autorização para celebrá-la. (Santo Inácio de Antioquia, Carta aos fiéis de Esmírnia 8:1-2. J65).

A autoridade da Igreja se funda num envio e mandato de Cristo, sendo, portanto, uma autoridade de Cristo (1Cor 4,1; 12,7; Ef 4,12). A obediência à autoridade da Igreja não é primordialmente uma exigência sociológica, mas profundamente religiosa. É necessário sentir com a Igreja e estar em comunhão com ela.

O perigo é ser excelentes devotos e péssimos cristãos, pela ruptura da comunhão eclesial e pela desobediência pastoral e institucional...

Grupos radicais sempre existiram dentro e fora da Igreja, desde os cristãos judaizantes na era apostólica até os nossos dias. Na Idade Média dentre outros grupos temos o jansenismo que não diferente dos grupos radicais de hoje tinha como pano de fundo a Eucaristia e a Confissão como elementos constitutivos de uma moral exacerbada.

Querer a “sagrada comunhão”, sem estar em comunhão com o bispo e o presbitério é não ter entendido o sentido real da “comunhão”. Quem rompe a comunhão eclesial, para que receber a comunhão sacramental? Se na ação prática há uma negação dela.

Outro discurso totalmente diferente deste que estamos refletindo seria a sacralidade deste augusto sacramento e a necessidade do mesmo por parte dos cristãos católicos. A Igreja vive e se alimenta da Eucaristia. A Eucaristia faz a Igreja, como recentemente afirmou o Papa Francisco: “A Eucaristia tem o lugar central na Igreja porque é a Eucaristia que faz a Igreja”.

No dizer dos Santos padres, dentre eles Santo Agostinho os sacerdotes são “pobres homens” e às vezes cheios de culpa, porém o sacerdócio é santo. Enquanto “Povo de Deus”, a Igreja se compõe de membros falíveis/pecadores, porém, em sua realidade de corpo e esposa de Cristo, templo vivo do Espírito Santo, é ela mesma “a coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). A Igreja é santa e pecadora em todos os seus membros e épocas.

Não somos santos, mas os sacramentos que celebramos, sim o são, porque o Seu autor e realizador é Jesus Cristo. Sem comunhão eclesial, não tem sentido comunhão sacramental.

Em todas as Igrejas na Arquidiocese de Maringá serão celebradas as Santas Missas nos finais de semana e ao longo da semana, não deixaremos de rezá-las.

Aplicaremos o sacrifício da Missa por todo o Povo de Deus. Cada padre em sua respectiva paróquia.


Anina una et cor unum in Deum.


Padre Salvador Aparecido dos Santos

Pároco da paróquia Santa Teresa de Jesus, em Marialva – Arquidiocese de Maringá