A morte não é o fim, mas o início de vida nova - Matéria de capa da Revista Maringá Missão, Novembro de 2023

08 de Novembro de 2023

A morte não é o fim, mas o início de vida nova - Matéria de capa da Revista Maringá Missão, Novembro de 2023

Quando um ente querido morre, desencadeiam-se uma dor e uma tristeza profundas. O processo de luto deve ser vivenciado para a superação da perda, mas a morte não é o fim. Deus promete vida eterna a todo aquele que crê Nele. Como está no trecho do Evangelho de João: “porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3,16).


Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Itália), padre Rafael Solano, da Arquidiocese de Londrina, afirma que a morte é um passo, não um ponto final. “Para nós, católicos, a morte não termina no cemitério, a morte é apenas uma vírgula de uma das experiências mais sublime que teremos, que é o encontro definitivo com Deus”. Ele ainda enfatiza que professamos a ressurreição da carne. “O termo “carne” envolve toda historicidade do ser, por isso nossa história de vida humana, temporal, já está ligada com a nossa vida eterna, forma de viver, de professar a fé e que nos conduz a acreditar que, se morremos, morremos com Cristo, e, se vivemos, vivemos com Cristo.


Nós, cristãos, independentemente de qual seja a nossa religião, se católica ou de outra denominação cristã, todos nós, cristãos, professamos a fé na ressurreição com Cristo.” O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1010, ensina que “a novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo batismo, o cristão já está sacramentalmente ‘morto com Cristo’ para viver uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma esse ‘morrer com Cristo’ e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor”. Segundo padre Rafael, o luto é uma situação humana de saudade, tristeza e nostalgia. “O luto tem diferentes formas de ser vivido. Para algumas pessoas significa simplesmente a tristeza pautada pela tragédia, pelo drama da morte, mas não podemos viver uma vida toda de luto”.


VIVENDO O LUTO

A profissional de Relações Públicas Rosmari Chimentão Ramos, moradora de Jandaia do Sul, pertencente à Paróquia São João Batista, perdeu o filho e o marido há 15 anos. “Em 2008, quando estávamos voltando de São Paulo para Jandaia, na rodovia Castelo Branco, teve um acidente de carro comigo, meu filho Nicolas, de três anos, e meu marido Carlos Henrique. Perdi os dois de uma vez só. Os dois foram enterrados juntos e, na ocasião, nem pude estar presente, pois passei por uma cirurgia e estava hospitalizada”. Ela relata que viver o luto não é fácil. “Perder um filho é difícil, que dirá a família toda. Estávamos nos preparando para ter o segundo filho. Minha busca foi incessante, fui buscar entendimentos, fiz estudo bíblico, viajei para lugares espirituais, fiz peregrinações e participei de encontros com outras pessoas que passaram pelo mesmo que eu. Acredito que estou de pé, lutando, porque Deus esteve comigo em todos os momentos, antes, durante e depois. Desde o nascimento do meu filho, Deus estava lá. E é muito interessante porque, na morte dele, também senti Deus.” Rosmari afirma que é de uma família muito católica e o amparo nesses anos somente Deus pode dar. “Não existe outra forma, só Deus. Nunca tive raiva ou ódio Dele, sempre olhei por outro lado. Consegui me manter de pé porque Deus estava lá, me dando o suporte nas horas difíceis. Eles [meu filho e marido] estão comigo o tempo todo, não me sinto mais sozinha, estou sempre acompanhada, é assim que me sinto. Acredito que o testemunho que a gente passa para os outros, dentro do que vivi e presenciei é de grande alento para outras mães. Fiquei para dar continuidade”.


RESSIGNIFICAR

A psicóloga, escritora e palestrante Gláucia Tavares, de Belo Horizonte (MG), é especialista em perdas e ressignificações e cofundadora e presidente da Rede Apoio a Perdas Irreparáveis (API), trabalho voluntário que criou com o seu marido após a morte de sua filha caçula. “A rede foi criada como espaço para acolher os enlutados, favorecer que eles possam expressar suas dores e buscar recursos para prosseguir. Neste ano, a rede completou 25 anos”. Segundo ela, é possível passar por este desafio, tão doloroso, com abertura para contínuas reflexões e aprendizados. “Não somos capazes de mudar os fatos que nos acontecem, mas podemos buscar novas formas de lidar com estes desafios. Humildade, gratidão e fortalecimento da rede de interações”. A psicóloga ainda acrescenta que o lema da sua vida é ‘aprender a aprender’. “A ausência física não elimina nossa disposição de amar. A forma afetiva e espiritual está presente. Essa é uma decisão de continuar mantendo essa condição amorosa. Aprender a perder sem se perder, entendo que é uma das condições essenciais da nossa caminhada de vida”.


DIA DE FINADOS

Dois de novembro, Dia de Finados, é uma data dedicada a oração e homenagem aos que já faleceram. Para nós, católicos, é fundamental rezar pelas almas que estão no purgatório, à espera da purificação antes da entrada no paraíso. Rezar pelo ente querido que faleceu é uma forma de demonstrar o seu amor e afeto por aquele que partiu. Como diz Santa Teresinha do Menino Jesus, “pensar em uma pessoa que se ama é rezar por ela”. Neste dia, é tradição participar da missa em memória aos entes queridos, ir ao cemitério acender velas, levar flores e visitar os túmulos. Em outros dias, é possível lembrar-se de seus parentes falecidos quando estiver na Santa Missa, por exemplo, no decorrer da oração que o sacerdote dedica às almas.


PASTORAL DA ESCUTA

A Pastoral da Escuta e Aconselhamento na Paróquia Catedral Nossa Senhora da Glória, de Maringá, faz um trabalho de escutar e ajudar a pessoa a expressar a dor, o luto e sofrimento. A coordenadora da Pastoral da Escuta e Aconselhamento, a psicoterapeuta Hismirley Câmara, explica que cada pessoa tem sua forma, seu jeito e maneira de viver essa experiência. “É muito frequente as pessoas irem com muitos conflitos internos, perguntas, questionamentos, e isso independe se tem um conhecimento cristão, religioso ou não, a dor é muito forte e os questionamentos e sofrimentos são muitos e se confundem”. O papel da Pastoral da Escuta e Aconselhamento é escutar a pessoa, saber como ela se sente, sem nenhum julgamento ou conselhos prontos. “Nossa equipe está preparada para acolher, ajudar a pessoa a expressar sobre como ela se sente e, a partir da sua perda, verbalizar o que ela realmente vive no momento. E então, depois que a pessoa começa a falar, ela mesma se escuta e pode começar a dar um novo sentido para a vida, buscando recursos internos para ressignificar e ter uma razão, um motivo para se levantar e continuar sua vida, apesar das circunstâncias”, enfatiza a coordenadora, que destaca que todos os dias têm pessoas buscando essa ajuda.


SERVIÇO

Os atendimentos são com horário marcado, de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 14h às 18h; aos sábados, das 8h às 12h. Às segundas-feiras, às 14h30, no Centro Pastoral da Catedral, há a “Escuta de grupo”, um novo projeto da Pastoral da Escuta e Aconselhamento que trabalha com a Terapia Comunitária Integrativa. Mais informações na Secretaria da Catedral ou pelo telefone (44) 3227-1993.

POR MARCELA MIRANDA EGITO

Artigo da Revista Maringá Missão, Edição Novembro de 2023
Disponível nas paróquias da Arquidiocese de Maringá e versão digital

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