Desde outubro de 2021, estamos vivenciando o Sínodo que nos convida a “caminhar juntos” – sinodalidade –, envolvendo diversos processos e etapas de escuta e sínteses. Ao longo deste caminho, foi-nos apresentada a metodologia denominada de “Conversa no Espírito” (também chamada “conversação”; “diálogo no Espírito”). O “Diálogo no Espírito” é um método utilizado para discernimentos e definições comunitários. Remonta à Igreja primitiva (At 15), encontra uma sistematização entre os Jesuítas, em 1.539 d.C. e está presente também em outras instituições e ordens religiosas.
É uma metodologia que exige diálogo orante e reflexão profunda, responsabilidade e seriedade em expor os apelos que surgem ao coração e em escutar o outro, o grupo, com coração humilde e aberto. Tudo o que se diz e escuta é colocado e acolhido mediante uma atitude de oração, deixando- -se guiar pelas moções do Espírito Santo. O Diálogo no Espírito apresenta quatros passos: a) preparação pessoal; b) uso da palavra e escuta; c) abrir espaço para os outros e para o outro; d) encontrar caminhos juntos. Intercalando cada um desses passos, mantêm-se momentos de silêncio e oração.
Diante da questão a ser discutida e discernida, os participantes do Diálogo no Espírito reservam um tempo para uma oração sincera e comprometida com a construção do reinado de Deus, o bem comum e a glória de Deus Pai. Deixando-se guiar pela ação do Espírito, recolhe em seu coração todos os sentimentos e reflexões sobre o tema. Após essa preparação pessoal, todos os membros implicados no Diálogo fazem uso consciente da palavra, expondo, de modo mais claro e organizado possível, tudo o que recolheu e discerniu em seu interior como voz do Espírito. Isso implica uma escuta ativa e humilde de todos os demais membros, que devem acolher cada exposição com a mesma abertura e compromisso orante. Aqui, o método exige um falar e um escutar sem a busca de confirmar ou refutar opiniões e ideias. Terminado esse momento, retoma-se o silêncio e a oração pessoal, recolhendo, confrontando e discernindo novamente, diante do Espírito, tudo o que foi exposto. No terceiro passo, cada um ressoa tudo aquilo que tocou profundamente seu coração enquanto escutava o outro. Novamente, permanece a postura do uso da palavra de modo responsável e fraterno e uma escuta aberta e humilde. Um novo momento de silêncio e oração conclui esta etapa. O quarto passo é o discernimento, em busca de caminhos a serem percorridos conjuntamente em vista do bem comum, do fortalecimento da missão da Igreja e da glória de Deus. Uma pergunta orienta essa etapa: “Que passos o Espírito Santo nos chama a dar?” O quarto passo não se resume a uma consulta no qual vence a proposta que obtém mais votos ou que agrade à maioria, mas é, verdadeiramente, um deixar-se guiar pelo Espírito Santo, construindo caminhos onde todos sentem-se consolados e seguros, conscientes de terem chegado ao que mais representa o clamor do Senhor diante do tema discernido.
O Diálogo no Espírito favorece a sinodalidade. Nele, conscientes de que o Espírito Santo fala em seu coração, todos os sujeitos podem efetiva, confiante e responsavelmente contribuir. Não tem vantagem o perito no assunto, o que possui maior capacidade de convencimento, o que elabora o melhor argumento, porque o protagonista é o próprio Espírito Santo, que age por meio de todos e em todos (cf. Ef 4,4-6).
Por Érica Daiane Mauri
Doutora em Teologia. Equipe de Animação Bíblica
Comissão de Formação Teológico-Pastoral da Arquidiocese de Maringá
Publicado na edição maio de 2024 da Revista Maringá Missão, acesse a versão digital
