A Igreja em Oração
Monges Cartuxos
A constituição Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia católica que é uma das quatro constituições apostólicas emanadas do Concílio Vaticano II diz: “O Sumo Sacerdote da Nova e eterna Aliança, Jesus Cristo, o Verbo divino que assumiu a natureza humana, introduziu neste exílio terrestre aquele hino que perpetuamente é cantado nas moradas celestes. Ele mesmo une a si toda a comunidade dos homens para juntos cantarem este divino hino de louvor” (SC, n. 83). Assim o subsídio sobre a oração nesta segunda-feira inicia a nossa reflexão sobre a Igreja em oração.
A oração é um mistério, uma vez que tem sua origem e suas raízes no próprio Coração de Deus; no hino de louvor, perpetuamente cantada nas moradas celestiais, ressoando para sempre no singular Mistério de Deus, que só Ele, o Deus Trino, conhece. Por isso, um tal hino, só Ele pode cantar e ensinar. (13).
A vinda do Filho de Deus neste mundo, une toda a comunidade de fé para juntos cantarmos os hinos de louvores a Deus. Foi na Páscoa de Cristo que o Pai abriu para nós “as portas da eternidade” e nos revelou o mistério de sua Vida íntima; revelou-nos qual é esse “eterno canto de louvor”. (14). A oração é um mistério, uma vez que tem suas origens e suas raízes no próprio Coração de Deus. Ao dar-nos seu Filho, o Pai nos deu o próprio mistério da oração, da possibilidade de orar, de entrar em comunhão real com ele, com o Deus que ninguém jamais viu nem pode ver, mas que, agora, em Cristo, movidos pelo Espírito Santo, podemos chamar, com toda verdade; “Abbá!”. A nossa oração e a da Igreja são, portanto, “união à prece de Cristo, na medida em que nos faz participar de seu mistério” (CIgC, n. 2718). Essa afirmação, no subsídio de preparação para a nossa catequese orante, nos afirma que, a Igreja se une a Cristo e Cristo se une a sua Igreja orante, dialogando com o mistério que nos acolhe, nos estimula, nos ilumina no caminho que nos leva ao Pai.
Esse diálogo entre o Pai e o Filho no Espírito, esse eterno “comunicar-se”, constitui toda a vida de Deus, tudo o que existe, “Abbá-Pai”, é, portanto, “O canto de louvor que ressoa eternamente nas moradas celestiais” (LC, Introdução). É o hino de “ação de graças do vosso Cristo que vive para sempre, o qual felizes cantaremos”. (15).
A Igreja é casa de oração. A criação natural, o Universo inteiro, esta, por assim dizer, Igreja “cósmica”, já celebra, desde o primeiro instante de sua existência, uma verdadeira liturgia, já ora. Cada pessoa é pedra viva do templo de Deus, é membro do Corpo de Cristo, constituinte da Igreja orante.
Por sermos criatura, portanto, criados e não criadores, estamos submissos ao Criador. Nem sempre, o ser humano se deixa colocar em seu lugar. Quer tomar o lugar dos outro, o lugar de Deus. Portanto, o pecado primitivo ofuscou nosso canto de louvor a Deus. Quebramos o vínculo amoroso com Deus pela desgraça do pecado. Igreja ora por meio da Liturgia, na Eucaristia e no Ofício Divino. A oração deve ser constante e permear o cotidiano dos cristãos, uma forma dessa oração incessante é a Liturgia das Horas. Assim este subsídio nos apresenta que a oração exige uma vida de “deserto”, como “lugar” de encontro, onde Deus se revela, na fé, o seu verdadeiro Rosto “àqueles” que o desejam.
A casa de Deus é a Igreja do Deus vivo, diz São Paulo (cf. 1Tm 3,15). E Deus mesmo quis que essa sua Casa fosse uma casa de oração (Is 56,7; Mc 11,15; Lc 19,45; Mt 21,12).
A oração, o diálogo entre Deus e o ser humano, a união entre Deus e a humanidade, é, portanto, a essência da Igreja, sua razão de ser, fora da qual ela não teria motivo para existir. (19). Toda a criação, portanto, estava orientada a ser “casa de Deus e casa de oração e o sacerdote dessa Igreja era “Adão, filho de Deus” (Lc 3,38), criado à imagem e semelhança do Filho, a fim de que pudesse, com o Filho, ser um canto de louvor e gratidão ao Pai. A resposta de nossos progenitores – que não quiseram receber o dom da vida divina, como o recebeu o Filho, mas quiseram apoderar-se dele autonomamente, ofuscou terrivelmente, neles e em nós, a luz que lhes permitia ver e louvar a Deus em si mesmos e na criação que os cercava. Perderam quase completamente a capacidade de dar voz ao hino de louvor da criação. (29).
Mas agora, com a Encarnação do Verbo, o Amado chegou, o Noivo desceu ao seu jardim (cf. Ct. 5,1) e com ele “o inverno passou, o tempo do canto voltou! Um canto que só Ele pode cantar verdadeiramente e que só os pequeninos da terra podem aprender: Jesus exultou no Espírito Santo e disse: Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Lc 10,21) (31).
O lado traspassado do Corpo pascal de Jesus, de seu Corpo crucificado e ressuscitado, do qual “imediatamente” brotam “Sangue e Água”, é a única Fonte do Espírito. E o Espírito é aquele que nos ensina a orar, porque “Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abbá, Pai” (Gl 4,6). Ele, “intercede em nosso favor, com gemidos inexprimíveis”, suprindo nossa incapacidade de orar como convém (Rm 8,25) (35).
Houve um dia em que Deus bateu à porta de uma pequena casa de aldeia, bateu à porta de uma jovem desconhecida, pedindo-lhe: “Abre-me, ó minha irmã e amada, minha pomba, minha imaculada” (Ct 5,2). Abre-me, pois minha alegria é “estar com os filhos de Adão”. E ela abriu imediatamente. E então “a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). (89).
Assim Deus se aproximou de nós e nós começamos a aprender a ver o rosto de Deus através do seu Filho que alimentamos o grande desejo de estar com Ele. Ele se dá a nós na Palavra e na Eucaristia. No silêncio, aprendemos a estar com Ele, criar intimidade com Ele, estar com Ele e viver por Ele. A Igreja é a referência para estarmos com Ele, pois Ele se manifesta na comunidade, povo orante, que busca nele a fonte segura que gera fé e esperança.
Que a exemplo dos monges Cartuxos, aprendamos a criar momentos de silêncio em nossa vida, nos exercitamos a dialogar com Jesus Cristo, porque Ele é a Palavra do Pai que tem um lugar reservado para todos nós no seu Reino, contanto que façamos a sua vontade aqui na terra.