De 14 a 16 de novembro de 2025, Guarapuava acolheu o Seminário da Campanha da Fraternidade 2026, promovido pela CNBB Regional Sul 2, no Centro de Formação San Juan Diego. Com o tema “Fraternidade e Moradia” e o lema “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14), o encontro reuniu articuladores regionais e diocesanos de todo o Paraná em três dias de estudo, oração e profunda experiência fraterna.
A assessoria foi conduzida pelo diácono Walter Saraiva, pelo Frei Ildo Perondi e pelas professoras Leoni Alves Garcia e Meriele Cristina Ferreira Haçul, contando também com a presença do secretário executivo do Regional Sul 2, padre Valdecir Badzinski.

Leoni destacou o sentido amplo do seminário. “Esse seminário é muito importante porque nós trouxemos um olhar para o todo da Campanha da Fraternidade. O tema Fraternidade e Moradia nos faz ver que a moradia é a porta de entrada para todos os direitos”. Ela explicou que o Regional se dedicou a observar a realidade residencial do Paraná com atenção: “Nós nos debruçamos em olhar essa realidade da moradia no nosso estado. Depois desse ‘ver’, fizemos a iluminação com a Palavra de Deus: o que Deus diz a respeito da moradia, o que o Magistério da Igreja nos ensina sobre esse direito”. Para ela, o seminário se tornou então um ponto de partida para a ação pastoral: “Saímos deste tabor, que é o nosso seminário, perguntando como será nossa ação em nossas dioceses, junto àqueles preferidos de Deus.”
A reflexão começou na sexta-feira à noite, quando o diácono Walter Saraiva conduziu o VER da Campanha a partir do Texto-Base. Segundo ele, o primeiro desafio foi analisar a situação da moradia no país. “Neste seminário nos propusemos a fazer um levantamento da realidade da moradia no Brasil. E a partir disso olhar também o nosso Regional Sul 2”, explicou. Em sua avaliação, ainda há um longo caminho pela frente: “Verificamos a precariedade das moradias e as dificuldades que as pessoas enfrentam para ter acesso a esse direito. Isso nos ajuda a formular propostas para um agir mais efetivo, conforme pede a Campanha da Fraternidade.”

No sábado pela manhã, o JULGAR foi trabalhado pelo Frei Ildo Perondi, que iluminou a reflexão com a Sagrada Escritura. Frei Ildo lembrou que “desde o Antigo Testamento, Deus quer morar com o seu povo. Ele sempre diz: ‘eu estarei contigo’”. Para ele, a plenitude dessa presença se dá em Jesus Cristo: “O Evangelho de João diz: ‘o Verbo se fez carne e habitou entre nós’. A presença de Deus se concretiza em Jesus morando no meio de nós”.
O assessor explicou que a própria vida de Jesus revela a centralidade da casa como espaço de dignidade e evangelização. “Jesus nasce sem casa, encontra sua primeira moradia numa manjedoura. Depois visita casas: a de Pedro, a de Marta e Maria, a de Zaqueu… e leva salvação a esses lares. A moradia não é apenas um abrigo, mas um espaço de afeto, família, evangelização e dignidade humana.”

À tarde, os participantes se reuniram por províncias para partilhar a realidade habitacional de cada diocese. A professora Meriele Haçul destacou a riqueza dessa escuta: “Estivemos com um número muito bom de participantes, e cada um trouxe sua contribuição. Assim conseguimos chegar a um denominador comum sobre tudo aquilo que a Campanha da Fraternidade nos propõe.”
Logo depois, a coordenação conduziu os participantes até uma ocupação na periferia de Guarapuava, onde famílias vivem sem água, sem energia regular e sem condições mínimas de dignidade. O local foi recentemente descoberto pelos missionários da Paróquia Divino Espírito Santo durante visitas missionárias. A visita sensibilizou profundamente os presentes e se tornou, para muitos, o momento mais marcante do seminário.

No início da noite, a comunidade Pai Eterno acolheu a Santa Missa presidida pelo bispo diocesano, Dom Amilton Manoel da Silva, reforçando espiritualmente o caminho da Campanha.
No domingo, o encontro voltou-se ao AGIR, orientado por Leoni e Meriele, que retomaram a tese fundamental da Campanha: “Moradia digna é a porta de entrada para todos os direitos”. Após a apresentação de materiais, cursos e propostas de comunicação, o padre Valdecir dirigiu uma palavra de envio, encorajando as dioceses a assumirem compromissos concretos junto às populações mais vulneráveis.

A fala dos participantes confirmou que o tema toca diretamente a vida pastoral das dioceses. A irmã Cristiane Maria, da Diocese de Paranaguá, ressaltou que a fraternidade e a moradia são realidades muito necessárias. “Nós lidamos com moradores de rua e pessoas que vivem nos mangues. Tudo aqui nos ajudou a criar consciência de que podemos fazer diferença na vida de quem precisa do nosso auxílio.”
Já irmão José Augusto Wendler, o Gutto, da Província Marista Brasil Centro-Sul, destacou a importância da metodologia da Igreja: “É fundamental partir do ver, julgar e agir. A Igreja nos convida a olhar o solo sagrado da realidade — e às vezes esse solo não é um país das maravilhas. Precisamos encarar as dores da falta de moradia e discernir caminhos à luz da Doutrina Social.” Ele ainda lembrou que a parceria da Província com a CNBB tem sido essencial para formar lideranças: “Disponibilizamos cursos baseados no Texto-Base, porque muitas pastorais tinham dificuldade de acessar o Fundo Nacional de Solidariedade. Este ano novamente oferecemos especialistas e materiais para que a Campanha chegue aos rincões do Brasil.”

Ao final, os articuladores retornaram às suas dioceses com o compromisso renovado de transformar a Campanha da Fraternidade 2026 em um verdadeiro exercício de caridade social, iluminados pela certeza de que a moradia — mais do que um teto — é um direito, um lar, um espaço de encontro, de fé e de dignidade humana.




