Especial: Paróquia Nossa Senhora Divina Pastora, em Ourizona – 50 anos

13 de Abril de 2016

Especial: Paróquia Nossa Senhora Divina Pastora, em Ourizona – 50 anos

Especial: Paróquia Nossa Senhora Divina Pastora, em Ourizona – 50 anos

A paróquia
“Muita poeira, muito mato. Chegamos a Ourizona/PR num caminhão “pau de arara” em meados de 1960. Não havia quase nada. Quando precisávamos comprar alguma coisa tínhamos que ir até Mandaguari”, recorda-se o casal Laura e Jacinto Calvo, ambos com 88 anos de idade, 7 filhos e 68 anos de matrimônio.
Senhor Jacinto às vezes confunde as datas, esquece de alguns detalhes, pede para esperar e gosta de contar longas histórias, principalmente sobre a paróquia Nossa Senhora Divina Pastora, a qual viu ser construída por muitas mãos. “Era uma igreja de madeira, capela São José, pertencia à paróquia São Sebastião de Mandaguaçu/PR. O trabalho iniciou-se com a chegada de três freis capuchinhos que literalmente colocaram a ‘mão na massa’, derrubaram paus, matos e ergueram um cruzeiro na cidade. Um dos freis se chamava Casimiro Maria de Orleans”.

A instalação da cidade Ourizona deu-se em 19 de novembro de 1961, sendo o primeiro prefeito o Sr. Antônio Azevedo – as imensas perobeiras e palmitais deram espaço ao comércio e às produções agrícolas. O progresso dos diversos setores atraía mais e mais famílias. A localidade recebeu o nome de Ourizona graças à ideia de um dos fundadores Nicolau Nassar, que havia nomeado sua fazenda de café – o significado é ouro verde.

O crescimento da cidade e as famílias que não paravam de chegar impulsionaram a necessidade da criação de uma paróquia que ocorreu em 26 de fevereiro de 1966 e recebeu como padroeira a devoção trazida pelos freis capuchinhos: Nossa Senhora Divina Pastora, desmembrando-se da paróquia São Sebastião de Mandaguaçu. A construção do templo foi possível graças à ajuda da comunidade que doou café, gado, realizando quermesses entre outros. O primeiro padre, pe. Paulo Weng, permaneceu na paróquia por 22 anos.

 

1° Ministro da Eucaristia ajudou na construção da paróquia

Com a idade de 90 anos e quase impossibilitado de andar, o ‘senhor’ Albino Panini traz na memória algo de que se orgulha em falar: “Ajudei carregar as pedras para a construção da igreja”. Chamado para ser ministro extraordinário da Eucaristia, ‘senhor’ Albino disse sim e dedicou mais de 40 anos de serviços à comunidade. “Na época as missas eram rezadas em latim e havia apenas uma pessoa que sabia responder”, lembra-se com muita clareza.

A filha Ana Panini seguiu os passos do pai e também aceitou a missão de levar Jesus às pessoas e conta: “Mesmo com as limitações meu pai ainda me acompanha quando vou levar comunhão aos doentes”.
Ana descreve o tempo de infância como uma vida muito feliz, quando participava das Cruzadas Eucarísticas e caminhava bastante para chegar à igreja e observa: “Hoje as paróquias são tão próximas a nós e muita gente nem liga e não vai”.

Segundo Ana, um fato marcante na comunidade foi a morte do padre Paulo, primeiro padre. “A igreja ficou um pouco desanimada. Passamos a ser atendidos pela paróquia São Sebastião de Mandaguaçu. Era difícil não ter um padre aqui na cidade. A comunidade também sente a rapidez com que os padres passam por aqui. Depois do padre Paulo os outros sacerdotes não ficaram mais que dois anos aqui na paróquia”, reflete Ana.

Contudo, ao chegar aos 50 anos de comunidade Ana deseja que os anos sejam ainda melhores, que os desafios e alegrias façam parte do coração desse povo guerreiro e feliz da paróquia Nossa Senhora Divina Pastora.

 

Primeira Catequista da paróquia chegou a ter 112 catequizandos de uma vez

Duzolina Brás Costa, 80 anos ainda caminha até a Igreja, quase de frente com sua casa. As mãos, as pernas e a memória já não são tão ágeis, mas as lembranças do coração, expressadas com tanto amor e saudade a faz contar e recontar tantas histórias que é impossível não mergulhar nas recordações tão suas, mas ao mesmo tempo tão comunitária.

Quando dizemos: Vamos falar sobre catequese? A reação é emocionante: Duzolina enche os olhos de lágrimas, eleva as mãos à cabeça, sorri e diz: “É a maior alegria da minha vida”. Quando menina quis ser irmã religiosa, no entanto tinha uma família muito grande e precisava ajudar a cuidar dos irmãos, mesmo assim ajudava algumas irmãs da região onde morava, na catequese.

A história na paróquia começa quando chegou o primeiro padre, pe. Paulo Weng, ela narra que ficaram 5 anos sem catequista, mas quando o padre ficou sabendo que talvez pudesse contar com ‘Dona’ Duzolina foi até a sua casa e lhe fez o convite. “Estou aqui porque quero te incumbir de algumas coisas na paróquia disse o padre. Estou te convidando para dar catequese e cuidar do coral da Igreja. Eu tinha 4 filhos pequenos, mas nem pensei e respondi: sim padre é o que amo fazer”, recorda-se Duzolina.

Os trabalhos começaram e aos poucos tudo foi se ajeitando, contudo chegou um dia que havia 112 crianças na catequese que era ministrada na paróquia. Duzolina diz que ficou olhando aquele número grande de crianças e pensou: “Preciso encontrar pessoas que me ajudem e vou fazer isso hoje logo após essa aula. Desci correndo até a casa de uma amiga (Aparecida) e a convenci a me ajudar. Separamos a turma entre os que fariam primeira eucaristia e crisma e assim continuamos os trabalhos”.

Logo o coral da paróquia estava formado e com 29 crianças que cantavam nas missas e se apresentavam na região. “Na catequese formávamos uma fila antes de iniciar e para entrar na igreja ensinávamos a disciplina e o respeito: todos se ajoelhavam, e não havia conversa. Pareciam anjinhos de tão quietinhos, [rsrsrsrs]”, lembra.

E lá se foram 40 anos dedicados à vida e missão na Igreja, que segundo Duzolina foram os anos mais felizes de sua vida: “Fui muito agraciada na vida em comunidade, havia outros grupos na paróquia como os vicentinos, grupos de reflexão – uma Igreja muito ativa, generosa e acolhedora – 50 anos Deus derramando bênçãos sobre esse povo. Um dia estava rezando e pedindo a Deus para saber catequizar e no meu coração Ele dizia: ‘Filha vai em frente tudo que você precisar falar eu vou pôr na sua boca’. Eu rezava o terço constantemente e estava sempre com ele nas mãos, pois assim sentia que andava de mãos dadas com de Nossa Senhora. Até hoje me arrepio quando conto isso e nessa fé dou graças por tudo que vivemos nessa comunidade”, encerrou Duzolina.

 

Por tudo que construíram damos Graças a Deus!

A jovem Inês Aparecida Vicente é ministra extraordinária da Eucaristia, faz parte do grupo Jovens Unidos em Cristo/JUC e é secretária do Conselho de Assuntos Econômicos/CAE. Há 16 anos na paróquia Nossa Senhora Divina Pastora descreve uma comunidade unida, solidária, comprometida. “Quando precisamos das pessoas nunca escutamos um ‘não’. É um lugar de irmãos. Quando venho à igreja sinto como se entrasse na minha 2° casa”, declara Inês que agradece a Deus por cada pessoa que marcou a história da paróquia, e no momento ao padre Geovani José Silva que tem se destacado por animar a comunidade com tanto amor e dedicação.

O sorriso e o brilho nos olhos de Inês a faz refletir sobre os próximos anos e trabalhos: a esperança de continuar construindo o Reino de Deus: “Entre os outros serviços sou ministra da Eucaristia. Servir os doentes me aproxima de Deus. Peço a Deus que, por meio desse ofício, as pessoas sintam Sua presença em mim”, conclui.

 

Comemoração do Jubileu de Ouro

A coordenadora do Conselho Pastoral Paroquial/CPP, Francielli Vila Verde Volpato conta que para o Jubilei de Ouro foi organizado o momento de oração mensal onde no dia 26 de cada mês era celebrada a Santa Missa em ação de graças aos 50 anos da paróquia. Para essas celebrações foram convidados os padres que administraram a Igreja nesse período.

Está fazendo parte do ano jubilar a reforma do templo da igreja, onde a comunidade se sentiu ainda mais estimulada a cooperar, pois as reparações realizadas mantiveram algumas peças originais como o piso, os vitrais, os bancos, a via-sacra entre outros. O ano de 2015 foi marcado pelo lançamento do Informativo paroquial e na missa de encerramento dos 50 anos de caminhada da comunidade foi apresentado um vídeo com depoimentos de pioneiros da paróquia e da cidade – paróquia lotada e um sentimento de muita alegria.

Francielli está há 16 anos na paróquia e além do CPP participa da liturgia e canto e do grupo Jovens Unidos em Cristo/JUC – Ela comenta que participar dos 50 anos da sua comunidade é um momento único que traz sentimentos inexplicáveis. “É um misto de alegria, amor, lembranças, muitas graças alcançadas”, diz a coordenadora que destaca ser agraciada porque pode colaborar com a construção de uma história que vai ficar para outros que vão chegando, crianças que vão nascendo; uma história que vai acontecendo, realizando-se, perpetuando-se ao longo dos anos.

Segundo Francielli um momento marcante nesse ano foi a presença de 60 missionários da Arquidiocese de Campo Limpo/SP que estiveram durante uma semana e visitaram as famílias da cidade evangelizando por meio da Palavra e da oração.

 

Padre Geovani e a comunidade Divina Pastora: primeiro amor

Padre Geovani José Silva chegou à paróquia em fevereiro de 2014, recém-ordenado assumiu como vigário paroquial por um período de 4 meses. Após uma conversa com o arcebispo de Maringá Dom Anuar Battisti foi designado como administrador paroquial até o momento.

O padre conta que encontrou uma comunidade que tem no primeiro padre, pe. Paulo Weg, a referência de pastor e um carinho grande, visto que as construções da paróquia, salão paroquial e outros aconteceram no período dos 22 anos que permaneceu na Igreja.

Com a morte do padre Paulo, que é sepultado dentro da paróquia, a comunidade não tinha mais um sacerdote residindo na cidade o que originou desafios pastorais que estão sendo resgatados com sucesso nessa nova etapa. Segundo padre Geovani neste período de dois anos já são 11 pastorais e movimentos, entre eles o Cursilho, que retomaram a caminhada paroquial. “Com paciência e calma estamos avançando. Prova disso é o envolvimento das pessoas neste ano jubilar possibilitando a reforma da paróquia”, relata.

Embora seja uma comunidade pequena, economicamente a paróquia Nossa Senhora Divina Pastora se mantém por meio do dízimo, ofertas e promoções anuais, entretanto, o administrador paroquial diz que o desafio maior ainda é o pastoral, mas ressalta que o povo de Ourizona é muito querido, comprometido, dá o melhor de si para fazer a Igreja crescer.

Alguns sonhos já foram realizados como as reformas da secretaria paroquial, do salão e das salas de catequese – essas vitórias foram possíveis com a Parceria entre CPP, CAE e o amor de cada um a essa Igreja. “Aqui nesta comunidade está o meu primeiro amor, aquele que a gente nunca esquece. Nossas alegrias e conquistas serão no dia a dia. Lembrando que não é o padre que constrói e sim as mãos de cada um que se coloca a serviço”, expressa padre Geovani.

Para o padre Geovani, que está pela primeira vez à frente de um Jubileu de Ouro, é um momento marcante. “Fiquei um pouco ‘perdido’, mas busquei conversar com outros padres e com o CPP para fazer desta uma data significativa para todos”, comenta.

Amparados pelo amor do Pai e sob o olhar da Divina Pastora, muitos sonhos e expectativas são almejados, especialmente no campo pastoral. “Graças a Deus por tudo aquilo que esta comunidade faz. Cada um que abraça, se dispõe, se coloca a serviço. Povo de coração grande, Nossa Senhora Divina Pastora os abençoe! Vamos trabalhar!, encerra padre Geovani.

 

Fabiana Ferreira/jornalista
Publicado na revista Maringá Missão