Opinião: Gerações em conflito. Por Raymundo de Lima

06 de Setembro de 2016

Opinião: Gerações em conflito. Por Raymundo de Lima

Ao chegar em casa eles vão direto para o computador. Estão ligados demais no mundo virtual para se relacionar de modo normal com os pais, avós, empregada, professores. Tal como dependentes de drogas, pode-se afirmar que muitos são dependentes destas telinhas. As relações virtuais lhes são mais importantes do que as relações presenciais. Faltam-lhes maturidade e empatia para com os diferentes. “Tudo tem que ser agora, já, ao mesmo tempo”. “Os alunos vivem hoje no século 21, os professores são do século 20 e os métodos de ensino são do século 19”, observa o professor da PUC-São Paulo, Mario Sérgio Cortella.

O que descrevemos acima são alguns sinais da geração Z, que está sendo apontada como sucessora da geração Y. Ambas nasceram na era do computador pessoal, onde informação é confundida com conhecimento. Conhecimento é confundido com sabedoria; interação virtual é melhor do que relacionamento presencial.

A geração Y, computadorizada, rompeu a fronteira entre estudo, lazer e trabalho. Afinal, como distinguir consultar o Google para responder uma tarefa escolar e assistir a um filme? Ou seja, é praticamente impossível não sair do foco de estudo para uma distração eletrônica, como são os joguinhos e conversas virtuais.

Frequentar a biblioteca continua sendo um lugar para consulta de livros, artigos, e lugar de estudo. Digamos que a biblioteca gera foco ou concentração no estudo, porque o livro e o ambiente propiciam prender a atenção do leitor, que precisa acompanhar a narrativa do autor, para poder entender o assunto. Já fazer uma consulta na internet tende a seduzir o aluno para “ir além” ou “aquém” do estudo. Porque o computador e a internet têm um “componente dispersivo e de distração”.

Empresas, atualmente, procuram selecionar gente para trabalhar com o mínimo de dispersão e tendência a distrações. Imaginem um segurança que ficar mais ligado na telinha do celular do que prestar atenção! Pode render o trabalho de um funcionário viciado em joguinho eletrônico, ou ligado aos “amigos” do facebook?

Outro problema é a qualidade do relacionamento da geração Y e Z. Essas pessoas foram criadas longe dos pais e avós. Ou seja, primeiro são entregues a creches, depois a escola de período integral, até a faculdade. Esta falta de convivência com os familiares tende a gerar problemas de relacionamento, marcados pela falta respeito e empatia com os mais velhos, e baixo respeito à autoridade dos pais: (Ver “A patada dos filhos”, Maringá Missão, edição anterior).

Estes valores atrofiados poderão ser reproduzidos na futura relação de trabalho. Hoje em dia, os professores reconhecem este efeito negativo de conviver com crianças e jovens “mal educados” ou “incivilizados”. Embora eles cheguem ao trabalho “escolarizados”, são “mal educados”. Portanto, algumas empresas se acham na tarefa de educá-los para conviver com os de outras gerações, que habitam o mesmo espaço e dependem mutuamente para bem trabalhar.

A baixíssima capacidade de tolerância aos mais velhos, é um desafio para as empresas atualmente. Os da geração Z exageram os sinais dos da geração Y. Por exemplo, os Z têm tanto o que fazer diante de uma tela eletrônica que ficam isolados, alienados em relação ao seu próximo. Tradicionalmente os pais sempre sabiam dizer não, para disciplinar os filhos. Cometiam exageros, o que era errado. Mas os pais de hoje não sabem ou tem medo de dizer não aos filhos Z, que precisam ser disciplinados. “Eles precisam aprender que plantas precisam de tempo para dar flores e frutos. A borboleta não pode sair do casulo antes da sua hora. Não se pode chupar laranja antes de madura...”.  Mas, como disciplinar a geração Z? Reeducando pais. Mas, como convocá-los para tal empreendimento?

 

Raymundo de Lima escreve todos os meses na Revista Maringá Missão, da Arquidiocese de Maringá


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