Matrimônio: 67 anos de união, amor, compreensão e muita fé

09 de Maio de 2017

Matrimônio: 67 anos de união, amor, compreensão e muita fé

A passos lentos, com a ajuda de um andador, “Seu” Antônio caminha pela casa com a ajuda da esposa Ana, que já perdeu a visão no olho direito. Ambos estão sempre juntinhos, não se largam para nada. Quando um percebe que o outro precisa de qualquer coisa está de prontidão para atender. “Seu” Antônio José dos Santos está com 92 anos e “Dona” Ana dos Santos com 86 – a idade avançada os limita em alguns aspectos, todavia, quando o assunto é amor, a jovialidade toma conta do casal que se olha apaixonado, com a mesma intensidade e alegria com que se viu pela primeira, há 70 anos.

Esse sentimento singelo que uniu o casal no final da década de 40, não é coisa do passado, pois aquela história do “felizes para sempre” encontrou o lar do casal para se abrigar e permanece com eles desde o Sim dado pelos dois em 30 de setembro de 1949, na cidade de Regente Feijó/SP. “Seu” Antônio, muito saudoso, se recorda que foi um dia muito especial: “Foi um dia muito bom, feliz, tudo correu bem”, suspira.

As lembranças do primeiro olhar ainda estão bem nítidas na memória do casal: “Fui jogar na bola na casa do irmão da Ana. Quando saí do campo de futebol ela estava no pomar chupando laranja – ali começamos a nos olhar. Eu gostei muito do olhar dela, tanto que no outro dia voltei no pomar para vê-la e para minha surpresa ela estava lá”, conta “Seu” Antônio. Com um sorriso largo “Dona” Ana diz que gostou de Antônio já de primeira. A cunhada resolveu dar “uma mão” para juntar o casal e foi, em nome de Antônio, pedir Ana em namoro, que prontamente aceitou, mas era preciso falar com o pai, que conforme relata era um pouquinho bravo. Contudo, “Seu” Antônio foi muito bem recebido pela família de Ana que logo lhe concedeu boa estima.

O casal, que reside em Floraí/PR há 52 anos, comenta que o namoro durou 02 anos e as visitas aconteciam a cada 15 dias. Ana trabalhava na roça e conforme o namoro ia acontecendo os preparativos para o casamento seguiam no mesmo ritmo. Segundo “Seu” Antônio era peão de fazenda, e não tinha nada, nenhum bem material, mas o seu coração ficou preenchido desde a primeira troca de olhar com Ana – a partir dali começou a cultivar um de seus maiores tesouros, o amor.

Para um dia tão especial, o casamento, numa paróquia em Regente Feijó/SP, o qual o casal não se recorda o padroeiro, Antônio se lembra de que teve que trabalhar muito, juntar recursos e chegou até a adquirir dívidas, porém, a alegria era tão grande que tudo foi vencido com muito amor, caráter e honestidade, características marcantes no casal. Na ocasião, para a maioria das pessoas o casamento celebrado na Igreja era legítimo, não sendo necessário o registro civil – então “Seu” Antônio e “Dona” Ana oficializaram a união civil somente depois que já tinham filhos grandes, no  Cartório da cidade de Ourizona/PR. Nessa cidade também foram efetuados seus Registros de Nascimento, pois não possuíam e de seus filhos. Segundo o casal, na data do casamento civil houve um baile e segundo os filhos, de acordo com “Seu” Antônio, todos caíram na dança para comemorar.

À medida que o tempo foi passando, aquele sentimento que teve início em meio a um pomar de laranjas, foi se tornando cada vez mais doce, mais companheiro, mais cuidadoso, mais amigo, e as dificuldades e desafios próprios de uma convivência a dois foram apenas acrescentando experiência e tornando o casal ainda mais feliz. “Nós sempre convivemos muito bem. Acho difícil, hoje, alguém viver todo esse tempo, 67 anos juntos, sem contrariedades. ‘Uma briguinha’, às vezes acontecia, mas nunca ficamos com raiva, sempre fizemos as pazes”, destaca “Seu” Antônio.

O amor que respeita, que afaga e que permanece rendeu frutos: 07 filhos criados com as limitações próprias da época e sustentados com o trabalho da roça, mas acima de tudo acolhidos, ensinados e educados com amor. Os pais orgulhosos e sorridentes dizem: “Temos 07 filhos que são tudo para nós, é um amor sem explicação. Todos são bem casados, nunca nos deram nenhuma ‘dor de cabeça’, são honestos, bons filhos, cuidam de nós”. Os netos e bisnetos também ocupam lugar especial no coração dos avós, aliás, para o casal a família é o grande tesouro que construído na vida. De acordo com “Seu” Antônio e “Dona” Ana uma família alicerçada na fé, na união, na harmonia e no mais puro amor. “Aqui na cidade de Floraí, onde chegamos e quase nem tinha casas, somos conhecidos com uma família muito unida e feliz. Reunimo-nos todos os domingos. A alegria é uma marca de nossos encontros”, salienta “Dona”Ana.

No mês de setembro “Seu” Antônio e “Dona” Ana completarão 68 anos de feliz união matrimonial, quando questionado sobre o que é preciso para viver bem no casamento ele descreve: “A gente se casa para conviver, não deve desprezar o outro por pouca coisa. Desentendimento até acontece, mas na família temos que ter o coração aberto, nunca fechado, precisa ter amor”, e confessa: “Às vezes me sento debaixo de uma árvore, choro e fico pensando que não sei viver sem a Ana. Meu maior medo é perder ela – acho que se ela partir eu tenho que partir também. Quando ela fica doente eu não sei o que fazer, mas ela me consola, e eu consolo ela”.

Entre lágrimas, “Dona” Ana conta que cuida do “Veio” com todo carinho, ajuda-o a trocar de roupa, dar remédio – a ajuda é mútua e sempre foi: “Enquanto ele não se levanta, não saio nem no portão. Tenho um cuidado muito grande com ele e faço tudo o que eu puder. O grande desejo que tenho na vida hoje é viver com ele até o dia que eu ir embora. Quando ele chora por essa razão eu peço para ele entregar para Deus, porque Ele resolve as nossas coisas.

Por causa das limitações da idade, Antônio e Ana não frequentam mais a paróquia local (Imaculada Conceição), mas recebem a eucaristia em casa e acompanham missas e orações pela televisão.  Ambos concordam que a fé faz muita diferença na vida do casal e da família, especialmente na união e harmonia de todos: “Sou muito feliz com minha família, filhos, netos, bisnetos. A primeira coisa que faço quando acordo é rezar por todos – para mim não tem diferença, amo todos”, fala “Dona” Ana.

Depoimentos:

Manoel José dos Santos – Filho

Tenho 64 anos de idade e 42 anos de casamento – O pai e a mãe para nós é a nossa árvore que mantém os galhos, todos nós, 07 filhos unidos. Sempre nos mantiveram com muito amor e carinho – Somos gratos pela educação que recebemos deles. Às vezes eram rígidos, mas graças a isso hoje somos todos cidadãos de bem. Nossos pais são nosso orgulho, amamos infinitamente. Abaixo de Deus, mamãe é o doce da nossa vida.


Adriana Fiais de Lima – Neta

Para mim ser neta da “Dona” Ana e do “Seu” Antônio é uma alegria e orgulho – eles são exemplos para nós. Aprendemos muito com eles. A vó Ana sempre aconselha que nunca devemos dormir brigados, se você brigou com seu marido faça as pazes antes de dormir. É muito bom estarmos unidos e aprendemos isso com eles – temos medo de perdê-los, por isso aproveitamos bem quando estamos juntos. Sempre é uma festa, sempre é muito bom.

Clarice Barraca dos Santos – Nora

Estou nessa família há 50 anos. Nossa convivência é muito boa, temos a “Dona” Ana e “Seu” Antônio como pai e mãe. Amamos demais, eles nos distribuíram amor e isso emana na família. Também sou casada há mais de 40 anos e é necessário muito amor, companheirismo compartilhar tudo e nunca deixar a mentira entrar na vida da gente – Isso tudo nós vimos com “Dona” Ana e “Seu” Antônio que muitas vezes conversaram conosco e nos orientaram em nosso Lar, o que fez muita diferença.




Publicado na Revista Maringá Missão de maio de 2017


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