Reflexão: Liturgia do XXVI Domingo do Tempo Comum, ano A – 27/09/2020

21 de Setembro de 2020

"Reflexão: Liturgia do XXVI Domingo do Tempo Comum, ano A – 27/09/2020"

“Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus e não haja divisões no meio de vós” (Fl 2, 5)

Na Liturgia deste Domingo, XXVI do Tempo Comum, na 1a Leitura (Ez 18, 25-28), o profeta Ezequiel nos chama a atenção quanto à boa conduta e quanto à nossa responsabilidade em fazer a diferença diante de um mundo degenerado. A pergunta que nos vem é sobre a causa da má conduta ou o porquê do consentimento ao mal, às vezes, de forma coletiva, que constatamos em nossa realidade.

O Papa São João Paulo II nos ajuda a responder esta questão: “O consentimento ao mal, que é um sinal preocupante de degeneração, intelectual, espiritual e moral não só para os cristãos, está produzindo, em numerosos contextos, um desconcertante vazio cultural e político, que torna incapazes de mudar e renovar. Enquanto as relações sociais não mudarem e a justiça e solidariedade permanecerem ausentes e invisíveis, as portas do futuro fecham-se e o destino de tantos povos fica aprisionado num presente cada vez mais incerto e precário” (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Para uma melhor distribuição da terra – o desafio da reforma agrária, 1998, nº 61).

Na 2ª Leitura (Fl 2, 1-11), o apóstolo Paulo nos interpela dizendo que nossa conduta deve sempre visar ao bem, ao bem maior: o bem comum: Nada façais por competição ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus e não haja divisões no meio de vós”.

No Evangelho (Mateus 21, 28-32), somos convidados, embora nos seja dado o livre arbítrio, a escolher sempre o bom caminho, somos convidados a produzir frutos para o Reino (vinha), pois são os frutos que contam, não os rótulos, importa mais fazer o bem do que “só falar bem”. O que conta é o testemunho de vida, comunhão com Deus, conversão. Não haverá humanidade nova, se não houver, em primeiro lugar, pessoas novas que firmam suas vidas na potência divina. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”, já dizia o Papa Paulo VI (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 41).

O Evangelho nos diz que sempre é possível mudar para melhor e, ao invés de falar só dos dois filhos, poderíamos dizer três filhos: o que diz NÃO, mas vai; o que diz SIM, mas não vai, e o que diz SIM e é coerente. Com qual dos três filhos nos parecemos? Jesus usa, neste texto, um gênero literário com imagens fortes que chega a provocar escândalo aos que reduzem a religião somente a práticas rituialísticas. Dizer que os cobradores de impostos e as prostitutas os precederiam no Reino é como se hoje disséssemos que Marx, Che Guevarra, Evo Morales, Hugo Cháves e muitos outros líderes do Brasil e da América Latina, demonizados por uma classe que se diz cristã e os consideram “violadores de leis” ou “pecadores públicos”, fossem mais coerentes com o Projeto do Reino, mais sensíveis com as causas humanas, com a justiça social etc. Talvez, pudéssemos imitá-los em suas capacidades, não necessariamente seguir suas ideologias, mais do que muitos filhos da Igreja que não entram no Reino e ainda impedem que outros o façam.

Sempre é tempo de mudar. Tomemos cuidado, pois, com os que são muitos solícitos em condenar a “mulher adúltera” (pobre e excluída), mas coniventes com Herodíedes (rica e que detestava João Batista, vez e voz dos pobres).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá – PR