Reflexão: Liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum, Ano B – 18/07/2021

12 de Julho de 2021

"Reflexão: Liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum, Ano B – 18/07/2021"

Jesus acolhe os cansados e oprimidos


Na Liturgia de Domingo, XVI do Tempo Comum, veremos que, no Evangelho de Marcos (6, 30-34), Jesus convida os discípulos a descansar um pouco da atividade excessiva, pois o trabalho, sem descanso, leva ao estresse e à agitação interior: "Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco". O tempo do repouso é necessário, e até obrigatório, e deve ser vivido seriamente. Dedicar um tempo para o estudo, oração, lazer, conviver um tempo com os familiares e tirar um momento para recarregar as forças físicas e espirituais é de suma importância para continuar com afinco na missão.

Os próprios santos e santas sentiram, em algum momento, a doença do ‘martismo’, que vem de Marta, mergulhar no trabalho, negligenciando a ‘melhor parte’ de estar com Jesus: “Chegam dias em que uma simples palavra me aflige e em que gostaria de partir deste mundo, porque me parece que tudo me cansa” (Santa Teresa). O Livro do Eclesiastes adverte: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (3,1). Procurar um lugar retirado e oferecer a Deus o que nos aflige pode ser de um valor sobrenatural, muito grande, mesmo que o coração pareça seco e sem forças para os atos de piedade.

É no silêncio interior que Deus melhor fala ao nosso coração. “Apesar de tudo, decidi trazê-la para mim; eis que vou levá-la para o deserto e lá, a sós, falarei ao seu coração” (Os 2, 14). Tirar um tempo para si mesmo não é fugir dos compromissos, mas sim poder pensar em ideais maiores, fazer novos planos, avaliar a caminhada, rezar, calar, “pois quem não sabe calar, também não saberá falar” (Sêneca). Só quem conhece a beleza do silêncio, dentro e fora de si, é capaz de viajar por seu próprio mundo interior.

É no silêncio que ouvimos a voz das coisas (da natureza), a voz do próprio eu e a voz de Deus. O amor nasce do silêncio e só ele o leva de novo à plenitude. O silêncio é o que aproxima os homens que o ruído separa, como também é o caminho da nossa própria compreensão interior. É pelo silêncio que nos encontramos a nós mesmos.

Quem não sabe silenciar não se encontra jamais. Há pessoas que vivem divorciadas de si mesmas, porque nunca fazem em si o silêncio. O silêncio não é apenas a ausência de palavras ou ruído, uma ausência, um valor negativo, mas, ao contrário, um valor positivo, edifica o nosso mundo interior, encontramos o caminho para a paz, para a sabedoria, para perdoar e esquecer e, acima de tudo, para amar. Já dizia o escritor Alceu Amoroso Lima: “A nossa alma precisa de silêncio como o nosso corpo precisa de alimento”.

Uma questão que vem à mente é como aproveitamos as nossas ‘folgas’ e como vivemos e nos comportamos aos domingos, dia santo para os cristãos? Ao longo de mais de vinte séculos de história, a Igreja Católica, juntamente com as outras igrejas cristãs, sempre reconheceu o particular sentido sagrado desse dia, vendo nele a Páscoa da semana que torna presente a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Domingo é dia do Senhor, que nos quer todos reunidos para participar da Eucaristia, ouvir sua Palavra e celebrar a ação de graças.

É o dia em que as famílias e as comunidades se encontram, para reforçarem os laços de comunhão e amizade. É o dia de cada ser humano se revigorar em suas forças físicas e espirituais. É dia de descanso, um direito que é expressão de justiça social, que possibilita a convivência com a família e com a comunidade. É dia de nos prepararmos para nos colocar diante do último dia, aquele que nunca se acaba. O domingo é, enfim, o dia da vida, da festa, da alegria. Domingo não é um feriado, mas um dia santificado. No feriado, cada um faz o que quer. No domingo, deve-se fazer o que Deus quer. Esse é o sentido do terceiro mandamento: guardar e santificar o dia do Senhor.

Atualmente, mesmo em países de tradição cristã, práticas ditadas por condições socioeconômicas tendem a dar a esse dia apenas um caráter de ‘fim de semana’, levando as pessoas aos shoppings e a se fecharem em si mesmas, dificultando a abertura para o Absoluto, requisito essencial de respeito ao ser humano, criatura de Deus. O domingo tornou-se, até, dia de violência, de mortes no trânsito, dia de pecado contra a saúde e a sexualidade, contra a família e a vida. A santificação do domingo, proposta pelos cristãos, revela um cuidado especial com o dom da vida.

 Uma sociedade consumista, para estar à altura da dignidade humana, não pode organizar-se apenas em função do lucro, como único valor a ser preservado. Se pretendemos construir uma sociedade justa e fraterna, não será entregando-nos à lógica do mercado que o conseguiremos. Além da dimensão econômica, há outros valores humanos, até mais fundamentais, a serem promovidos, tais como o convívio familiar, o culto religioso, o contato com a natureza, o louvor ao Criador.

Por isso é importante valorizar a celebração da Eucaristia em nossas paróquias e outros espaços para o encontro entre as pessoas e com Deus. Esses momentos devem produzir, em nós, um enriquecimento interior, consequência de se ter amado a Deus e de se ter vivido também a entrega aos outros, mediante o esquecimento próprio; devem ser momentos em que procuramos, especialmente, tornar a vida mais amável aos que estão ao nosso lado.

Somente regenerados interiormente, poderemos ter compaixão com os que sofrem e cumprir bem nosso papel de ‘bons pastores’ (Jr 23, 1-6) em todos os ambientes em que atuamos, seja na família, na Igreja ou na sociedade. “Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. Para reproduzir em nós os traços do Bom Pastor e ter compaixão diante da miséria humana, temos que ser, antes, ovelhas obedientes de Jesus.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR