Reflexão litúrgica: Quinta-feira, 04/08/2022 – Memória de São João Maria Vianney, presbítero – 18ª Semana do Tempo Comum

03 de Agosto de 2022

"Reflexão litúrgica: Quinta-feira, 04/08/2022 – Memória de São João Maria Vianney, presbítero – 18ª Semana do Tempo Comum"

Uma reta visão de Deus, uma reta prática de vida

Na Liturgia desta quinta-feira da XVIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Jr 31,31-34), que o profeta Jeremias compara a volta dos exilados com uma nova aliança que terá suas raízes no mais íntimo do coração. Jeremias recorda que Deus tinha feito uma aliança no Sinai, entregando a Moisés mandamentos escritos em pedra. O povo aderiu à aliança, contudo, mais com a boca do que com o coração, nunca interiorizou devidamente, foi infiel. Agora, nesta nova aliança, os mandamentos não serão mais gravados em pedras, mas no coração. Uma aliança que o tempo não apagará. Não será uma imposição externa, mas uma disposição interior para percorrer os caminhos de Deus.

Para a Doutrina Católica, a Lei Moral decorre da ordem estabelecida por Deus em todo ser humano para ser fundamento da conduta dos indivíduos e da sociedade. A lei natural é respeitada como lei do Criador e ponto de encontro de todos os homens, independentemente de suas crenças e filosofias de vida. “Na vida cotidiana, expressa o que se tem a obrigação de fazer, o que convém fazer. Serve também para formular e descrever a relação existente entre nossas ações e os objetivos que elas buscam atingir”.

Para Santo Agostinho, tudo foi criado por Deus segundo ordem, peso e medida, isto é, tudo está sabiamente ordenado numa escala hierárquica: Deus, homem, animal, vegetal e mineral. Essa hierarquia é a Lei eterna de Deus, não é uma filosofia, pois, segundo Santo Agostinho, a lei eterna é a vontade Divina que manda conservar a ordem natural e não perturbá-la. A Lei eterna Divina é interior à criatura, o objetivo fundamental do ser humano, da sua felicidade, é realizar a vontade de Deus. Por isso o dever moral é definido como a ação em conformidade com a vontade divina. É a conjugação do pensamento de Deus com as criaturas ordenadas traduzido na escala cósmica. A ‘moral do dever’ consiste no amor à ordem. Para ele, Deus não está ‘lá fora’, nas criaturas, nos prazeres, na filosofia e nem na riqueza, nem lá em cima, nem cá em baixo, mas está dentro de nós. Assim, ele consegue encontrar Deus dentro de si por meio da verdade. Então, a ‘moral do dever’ é tão somente amar a verdade Divina presente em mim.

“Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem. E se não encontras senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mesmo. Em te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão” (A verdadeira religião 39,72).

No Evangelho (Mt 16, 13-23), vemos que Jesus se dedica à formação dos discípulos e, então, pergunta-lhes: “Quem dizem os homens que eu sou?” Quais foram as respostas das multidões, de Pedro (Lideranças) e da elite no poder (anciãos, doutores da Lei, chefes dos sacerdotes)? Conforme cada visão de Deus, resulta uma prática de vida, uma opção, um testemunho. Sabemos que o nome de Deus está ligado a um Projeto (CIgC 203-213). Deus se revela, se autodefine aos homens. Não é o homem que cria (define) Deus (como era o caso dos gregos e romanos). “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo... ouvi seu clamor... conheço seus sofrimentos... desci para libertá-lo.” (Ex 3,7-10). “O que vou responder?... Eu Sou aquele que Sou... este é meu nome” (Ex 3,13-17).

Deus, ao se revelar, mostra sua proposta (Projeto) para o homem e a sociedade. Este Projeto, Deus revelou, de maneira especial, por meio dos profetas, no Antigo Testamento. Podemos ilustrar este Projeto com o exemplo do texto de Isaías 65, 17-25, que diz:

- haverá novo céu e nova terra;

- não haverá mais choro e clamor;

- não haverá morte prematura;

- construirão casas e nela habitarão;

- plantarão e comerão seus frutos;

- ninguém gerará filhos para viverem na humilhação;

- haverá harmonia entre o homem e a natureza.

Jesus, ao se revelar (em comunhão com o Pai e o Espírito Santo), continua com o mesmo Projeto de vida e dignidade para todos (Lc 4,16-21). Jesus confirma esse Projeto, quando diz “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse Projeto se concretizará quando atingirmos a mentalidade ‘crística’, isto é, “quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11).

Em Mateus 9,35-38, Jesus estava comprometido com um Projeto de libertação integral do ser humano, por isso vai ao encontro dos mais excluídos (povoados, periferias, margem). Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas, como ovelhas sem pastor (sem rumo, sem horizonte etc.).

Então, Ele chama mais pessoas para este Projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética; quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo.

Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, “os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais” (DA, 501).

Este projeto do Reino de Deus deve continuar na vida da comunidade: Mt 5,13-16 e 1Pd 2,9-12 “Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para resgatar seu Projeto”. Uma necessidade, um chamado na história.

Qual a função de Pedro (Lideranças)?

Pedro somos todos nós: somos capazes do melhor e do pior, ao mesmo tempo.

- Do pior: só aceitamos Jesus quando Ele atende nossas necessidades mais urgentes, quando queremos um Jesus de sucesso, de espetáculo, sem cruz, messias, rei poderoso, triunfante e não servo sofredor. Quando Ele exige nosso compromisso, desaparecemos. Enfim, queremos mudar Jesus e defini-lo conforme nossos caprichos.

- Do melhor: quando damos continuidade a seu projeto. “Tu és o Messias, O Filho do Homem” (estar consciente, pés no chão, comprometido, abraçamos a nossa condição humana).

Não lutar pela justiça social é profanar o nome de Deus. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta ouvir, lembrar ou pronunciar o nome e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para esta pessoa.

Ser povo de Javé significa ser um povo em que não há opressão como no Egito; onde o irmão não explora o irmão; onde reinam a justiça, o direito e a verdade: onde a lei dos dez mandamentos é observada; onde o amor ao próximo é igual ao amor a Deus; onde o povo vive, celebra a sua fé e louva a Deus pelas suas maravilhas. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças – Sarandi – PR