Reflexão litúrgica: segunda-feira, 07/08/2023 – 18ª Semana do Tempo Comum

06 de Agosto de 2023

"Reflexão litúrgica: segunda-feira, 07/08/2023 – 18ª Semana do Tempo Comum"

JESUS NA EUCARISTIA É O CENTRO DA VIDA CRISTÃ, O PÃO QUE VERDADEIRAMENTE SACIA 

Na Liturgia desta segunda-feira da XVIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1ª Leitura (Nm 11,4b-15), que após o processo de libertação surgem as dificuldades e obstáculos que desafiam a coragem do povo para construir uma nova realidade. Nesse momento surge a tentação de se acomodar numa simples lembrança do passado, onde a falta de liberdade era compensada pela possibilidade de consumir bens variados. Ser livre é uma conquista contínua, e a maior tentação é a de vender a liberdade a preço de banana. 

Frente aos desafios da realidade o povo não pode jogar nas costas do líder a responsabilidade pelo próprio destino, nem o líder, em sã consciência, pode assumir tal responsabilidade. 


No Evangelho (Mt 14,13-21), vemos que o pão distribuído a todos é a marca da ação de Jesus. Os discípulos precisam imitar Jesus para que todos tenham o necessário: sentir compaixão e saber agradecer. Vejamos algumas chaves de leitura para melhor compreender este texto: 

1ª) Consciência de Jesus: soube da morte de João Batista. Na corte, houve um banquete de Herodes e seus aliados, isto é, um Projeto Político em benefício próprio (politicagem), sendo a causa da pobreza. Para ostentar vida de luxo, matam a vida e a esperança do povo. João Batista denunciava, incomodava: “Raça de víboras”, não pactuava com Herodíades. Os grupos religiosos da época eram coniventes com a situação de adultério da rica e da corte, mas denunciavam a pobre mulher adúltera. A morte da profecia alimenta a festa dos poderosos. 

A Igreja, hoje, deve estar de qual lado? Dos que dominam e manipulam a opinião pública ou do lado dos Movimentos Populares que visam um mundo melhor, de partilha, justiça e dignidade para todos. 

2ª) Jesus ‘viu’ a multidão: Jesus é pastor, é líder. Ele devolve a esperança e não despede ninguém de mãos vazias. Ele é o “Novo Maná”. Jesus é pastor que ama, cura, carrega ao colo a ovelha machucada, mas, também, enfrenta o lobo com seu cajado. Nosso cajado é nossa arma: conscientização – a consciência transforma a realidade. 

3ª) Comportamento das pessoas na multidão: Alguns buscam milagres mágicos, enquanto o maior milagre é “cair em si” (tomar consciência). Não vamos deixar para Deus fazer aquilo que compete a nós. Jesus exige compromissos. Em João, capítulo seis, após a pregação, Jesus fica só. Nossos líderes religiosos, hoje, ousam na profecia ou silenciam em torno de temas essenciais. Os donos da memória não devem se tornar donos do esquecimento. 

4ª) Responsabilidade e mentalidade dos discípulos: despedem as multidões. Eles se preocupam somente com o pão do espírito e que cada um se vire. Jesus põe a fé à prova, quer que enfrentemos os problemas, a responsabilidade pelas pessoas sofridas não pode ser transferida. Somos responsáveis pela fome no mundo. “Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão” (Is 55,2). A partilha, hoje, seria melhorar as políticas públicas, edificar uma sociedade alternativa sem a concentração de renda. 

5ª) O milagre: acontece a partir do que as pessoas tinham: cinco pães e dois peixes. Jesus saciou milhares de pessoas com fome, mas Jesus pediu a contribuição humana, como nos pede hoje: nosso trabalho, nossa solidariedade, nosso dízimo e nosso amor. Cinco pães e dois peixes, mesmo impotentes, quando partilhados, todos ficam saciados e ainda sobra. 

6ª) O milagre: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.Conversão para o espírito da partilha, banquete da justiça. Partilha: sinal de um novo modo de vida que nasce da organização do povo. Compromisso com uma sociedade justa, ideia revolucionária. 


Eucaristia é mero rito ou força revolucionária de alimento libertador? Qual a boa notícia que anunciamos? Mencionamos as causas da pobreza, ou tanto faz? Exemplo: Dom Helder dizia: “Se ajudo os pobres me chamam de santo, se aponto as causas da pobreza me chamam de comunista”. 


Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus. 


Pe. Leomar Antonio Montagna 

Presbítero da Arquidiocese de Maringá - PR 

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi - PR