“Grave-me, como selo em seu coração, como uma marca indelével em seu braço; pois o amor é tão forte, é como a morte! Cruel como o abismo é a paixão. Suas chamas são fogo ardente, são como as labaredas do Eterno! As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios não conseguem arrastá-lo correnteza abaixo. Quisesse alguém dar tudo o que possui para comprar o amor, qualquer valor seria absolutamente desprezado” (Ct 8,6-7).
Santa Maria Madalena
Oriunda de Magdala, na Galileia, dedicou-se ao serviço de Jesus após ter sido curada por Ele (Lc 8,2). Compareceu ao sepultamento do corpo do Senhor e foi a primeira a reconhecer o ressuscitado (Jo 20,11-18). São sem muita importância os indícios para identificá-la como a pecadora convertida por Jesus em casa do fariseu (Lc 7,36-50), ou com Maria, irmã de Lázaro e de Marta. A igreja oriental sempre as considerou e venerou como distintas. A liturgia orienta-se inteiramente no sentido de mostrar Maria Madalena como a primeira testemunha da ressurreição de Cristo junto aos irmãos, enviada a eles pelo próprio Cristo.
Ao lado da Virgem Mãe, Maria Madalena foi uma das mulheres que colaboraram com o apostolado de Jesus (Lc 8,2-3) e O seguiram até a cruz (Jo 19,25) e ao sepulcro (Mt 27,61). Segundo o testemunho dos Evangelhos, teve o privilégio da primeira aparição de Jesus ressuscitado, e do próprio Senhor recebeu o encargo do anúncio pascal aos irmãos (Mt 28,9-10).
Em 2016, o Papa Francisco proclamou essa Festa que hoje celebramos. Para Francisco, a memória de Madalena deve ser celebrada como a primeira testemunha da Ressurreição, a apóstola dos apóstolos. Ela é parte essencial da jornada do mestre Jesus, escolhida para ser testemunha Dele, por isso ela vai e anuncia aos discípulos: “Eu vi o Senhor” [...] “E contou o que Jesus tinha dito” (Jo 20,16-18). A justa iniciativa do Papa Francisco de elevar Maria Madalena ao status de apóstola é uma leitura sensível e coerente do papel dessa personagem, registrado pelo Evangelho. É uma atitude histórica de reconhecimento da figura de Madalena, não como prostituta, mas como parte integral e fundamental da comunidade dos discípulos de Jesus e protótipo de libertação para os coletivos femininos, que estão dentro e fora da Igreja Católica.
Na Liturgia desta terça-feira, Festa de Santa Maria Madalena, vemos na 1a Leitura (Ct 3,1-4a) uma das passagens mais significativas da Bíblia, que fala sobre amor e da busca espiritual. Cânticos, capítulo 3, foca as diversas facetas do amor e um dos símbolos mais marcantes é o leito nupcial, que representa a união entre duas pessoas e a intimidade do amor. Esse simbolismo é reforçado pela presença dos guardas que vigiam o leito, indicando a importância de proteger e zelar pelo amor.
O texto, apresenta um retrato do amor que ultrapassa o amor físico, focando em uma conexão espiritual e emocional profunda entre duas pessoas. A narrativa exala beleza, intimidade e proximidade, demonstrando a importância de um compromisso duradouro e fiel. A beleza do amor está em sua simplicidade e pureza espiritual. Ele é retratado como um sentimento forte o suficiente para superar todas as adversidades. Esta leitura se tornou uma passagem bíblica frequentemente utilizada em cerimônias de casamento, visto que o amor retratado no livro pode ser considerado como um exemplo a ser seguido pelos casais cristãos.
Em suma, o amor retratado aqui, é um amor divino e espiritual, que ultrapassa as fronteiras físicas e transcende o tempo. É um amor que permanecerá inabalável e florescerá, independentemente dos desafios que possam surgir. Através do relato da busca de amor de uma mulher, o texto nos leva a refletir sobre nossa própria busca de conexão espiritual com o divino, nos convida a explorar nossa jornada interior, buscando a presença de Deus em nossas vidas. A busca espiritual é, portanto, uma lição eterna e universal para todos os que procuram conexão com algo mais elevado.
Uma das principais metáforas utilizadas em Cânticos 3 é a da noite. A noite representa o desconhecido, o mistério e a busca por algo que ainda não foi encontrado. É durante a noite que a personagem principal do texto vai em busca do amado, simbolizando a busca espiritual por algo que ainda não se sabe ao certo o que é.
Alguns argumentam que a passagem é uma alegoria que representa o amor entre Deus e Seu povo, enquanto outros acreditam que é uma expressão literal do amor romântico entre o homem e a mulher. Embora haja diferenças nas interpretações teológicas, há um consenso de que a passagem é uma expressão profundamente espiritual e simbólica do amor e da busca pelo divino. Ao refletir sobre os ensinamentos desta leitura, é possível encontrar inspiração e orientação para enfrentar os desafios da vida cotidiana, bem como fortalecer a fé e a conexão com o divino. Enfim, a leitura é um convite a uma reflexão sobre a dimensão espiritual do amor, da importância da busca interior e da conexão com o sagrado, e sobre como podemos encontrar significado e propósito em nossas vidas.
Nesta Leitura (opcional), 2Cor 5,14-17, vemos que os inimigos de Paulo dizem que ele não é apóstolo porque não foi testemunha ocular da vida terrestre de Jesus, nem lhe conheceu as palavras e atos. Por isso, não pode ser testemunha do Evangelho. No entanto, o Apóstolo mostra que o Evangelho não é simples história de Jesus, e sim o anúncio de Sua morte e ressurreição, que restaura a condição humana, vence a alienação causada pelo pecado e inaugura nova era. Enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus escolheu apóstolos para exercer o ministério da reconciliação. Por meio deles, o Senhor Jesus continua Sua atividade salvífica na terra.
No Evangelho (Jo 20,1-2.11-18), vemos que Jesus está vivo, mas já não se manifesta de modo físico, como o Mestre durante a Sua vida na história. Doravante, Ele está presente no mistério da vida de Deus, e torna-se presente e atuante através do anúncio feito por aqueles que Nele acreditam. Chegou o tempo das relações da nova aliança: Deus é Pai, e os homens são filhos de Deus e irmãos de Jesus.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá (PR)
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi (PR)