O Natal simples de Jesus – Por Padre Edivaldo Rossi Gonçalves

23 de Dezembro de 2014

O Natal simples de Jesus – Por Padre Edivaldo Rossi Gonçalves

imagem O Natal simples de Jesus – Por Padre Edivaldo Rossi Gonçalves

Chega o mês de dezembro. Enfeites e lâmpadas coloridas tomam as ruas das cidades e as casas das famílias. A decoração sinaliza que uma festa muito especial se aproxima: o Natal.

Mas, o que faz o Natal ser realmente Natal? O nascimento de Jesus, é claro! Pois bem, farei a mesma pergunta, mas agora de outra forma: O que faz o Natal ser o Natal de Jesus? Opa! Então quer dizer que existem coisas, de que se dizem natalinas, entretanto pouco ou nada se relacionam com o Natal de Jesus? Deixarei que você mesmo tire suas conclusões.

Com este texto quero, apenas, chamar a atenção para um dos elementos fundamentais que fazem o Natal ser realmente Natal de Jesus: simplicidade.

A simplicidade aponta para a ausência de artifícios, extravagâncias e excessos, seja de ordem material ou social. É esta simplicidade que resplandece nos relatos do nascimento de Jesus.

Vejamos o que São Lucas nos transmite: “Aconteceu que naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra. […] Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal. Por ser da família e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.

Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo.

O anjo, porém, disse aos pastores: ‘Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura.’

E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados’. […] Os pastores foram as pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura” (2,1-14.16).

Como o texto bíblico afirma que Maria colocou o recém-nascido numa manjedoura, deduz-se que Jesus nasceu num estábulo, sem luxo ou riquezas. Pois, “quem podia ter nascido, num lençol de ouro fino, foi para dar exemplo ao mundo, que nasceu pobre Menino”. Vale lembrar que, desde sempre, na região de Belém as grutas foram usadas como estrebaria.

O evangelista Mateus nos apresente outros elementos significativos: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?

Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’. Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém. Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: ‘Em Belém, na Judéia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo’.

Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: ‘Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo.’ Depois que ouviram o rei, eles partiram.

E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,1-12).

Os relatos bíblicos nos colocam diante da nobre simplicidade do presépio: a estrela do Oriente sobre a gruta, José, Maria, o menino Jesus enrolado em faixas e deitado na manjedoura, os anjos do céu, os pastores e os magos do Oriente com seus presentes. A este quadro, São Francisco de Assis acrescentou o boi e o jumento, a partir de uma palavra do profeta Isaias: “o boi conhece o seu dono, e o jumento, a manjedoura do seu senhor” (1,3).

É justamente nesta simplicidade que Deus se revela. E é esta simplicidade que nos prepara para acolher a revelação de Deus. Parafraseando o Papa Bento XVI, no Natal, a simplicidade é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus.

Nossos presépios manifestam a nobre simplicidade dos relatos bíblicos sobre o nascimento de Jesus? Responda você mesmo. Veja bem, não estou perguntando se eles são belos, bonitos, mas se eles são simples e, em função disso, conduzem ao mais importante: o mistério da encarnação do Filho de Deus.

Percebo que em alguns presépios são colocadas tantas outras coisas que mais desviam a atenção do que favorecem a contemplação da cena bíblica; os olhares se perdem extasiados nas incontáveis lâmpadas coloridas, nas capelinhas, nas casinhas, nas graminhas, nas arvorezinhas, nos riozinhos, nas rodas d’água, nos cavalinhos, nos carrinhos etc., e se esquecem de contemplar a manjedoura com o Deus-menino. Diga-se de passagem, escondida em meio a tantas coisas. Mais do que um convite ao recolhimento, favorecem a dispersão.

Algo bem diferente disso aconteceu com a celebração do Natal de Greccio, em 1223, quando São Francisco montou seu presépio. Diz-se que, naquela noite de Natal, foi concedida a Francisco a graça de uma visão maravilhosa: viu jazer imóvel na manjedoura um pequeno Menino, que foi despertado do sono precisamente pela proximidade de Francisco. Seu biógrafo, Tomás de Celano, afirma que esta visão não discordava dos fatos porque, por obra da graça de Deus que agia por meio de Francisco, o Menino Jesus foi ressuscitado no coração de muitos, que o tinham esquecido, e foi impresso profundamente na sua memória amorosa (Vida primeira 86).

O que o seu presépio ressuscita no coração das pessoas? O Menino Jesus? Ou será que ele ressuscita as casinhas, os riozinhos, as rodas d’água, os cavalinhos, e os carrinhos? Talvez seja a hora de retornar às origens bíblicas e históricas desta belíssima devoção natalina.

“Simplicidade é mensagem de Natal! Deus é criança, nunca vimos coisa igual!”, diz o canto. Meu irmão, minha irmã, a simplicidade ajuda a valorizarmos o essencial: o Menino Jesus. É ele quem deve aparecer! É ele quem deve ser notado! É ele quem deve ser adorado. Deixemos o nosso presépio ser o presépio de Jesus. Deixemos o Natal ser o natal de Jesus! Quem sabe, assim, o Menino Jesus também ressuscite em nosso coração.

 

Padre Edivaldo Rossi Gonçalves

Paróquia Nossa Senhora de Fátima – Marialva

edivaldo_rg@hotmail.com

Publicado na revista Maringá Missão de dezembro de 2014