Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 1º Encontro 07/10/2024

09 de Outubro de 2024

Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 1º Encontro 07/10/2024

Rezar hoje. 

A oração é o respiro da fé, a expressão mais própria, diz o Papa Francisco, ao iniciar sua reflexão sobre a oração. Ao visitar as páginas dos Evangelhos, descobrimos que Jesus fecundava sua ação missionária com o exercício de profunda oração. 

Teremos ao longo de 8 semanas um horário próprio para juntos nos exercitarmos com a oração que deve brotar da simplicidade e liberdade. Atitudes que simplificam nossa relação para com Deus.  

A atitude reflexiva exige silêncio, esvaziamento, mente calma e coração aquietado. É mobilizar-se, caminhar em direção ao absoluto, deixar-se conduzir pela quietude que é o nada, vazio, abandono no infinito imensurável que encontramos a essência da oração. Encontro com o Senhor que na suavidade, dialoga com a nossa mente e aquieta o nosso coração. 

Madre Teresa de Calcutá disse: não basta as orações oficiais diárias e aquelas que por devoção acrescento, é preciso cultivar momentos intensos de relacionamento com Jesus, além do que faço ordinariamente. Sem Deus somos pobres demais para ajudar os pobres. Sem a oração somos inoperantes na ação pastoral. A fragilidade da convivência familiar é o retrato da escassez da oração na família. A constância da oração eficaz é antecedida pela oração pessoal. Com frequência, Jesus se retirava para estar a sós com Deus. Orava sozinho, nem sempre os discípulos o acompanhavam. 

“O comportamento de Jesus é, para o discípulo, uma norma absoluta de vida. Jesus é, de fato, o Mestre! Ora, ninguém pode negar que a oração não tenha sido literalmente o centro da vida de Jesus: a oração era seu respiro, seu horizonte de referência, a fonte de suas ações e palavras” (25). 

Blaise Pascal (1623-1662), olhando para a vida de Jesus, extraía as normas da atitude cristã e concluía: “Amo a pobreza, porque Cristo amou a pobreza!”. É possível dizer, tranquila e legitimamente, o mesmo sobre a oração: amo a oração sem contestações, porque Cristo amou a oração! O Evangelista Marcos registra: “Bem cedo levantando-se antes do amanhecer, Jesus saiu e foi a um lugar deserto e lá ficou em oração” (Mc 1,35). Esse era um gesto tão habitual que ficou profundamente gravado na memória dos apóstolos: eles, depois da Ascensão, não podiam lembrar de seu Mestre e Senhor sem lembrar também de sua oração (26). 

Neste ano, somos convidados a nos tornar mais humildes e abrir espaço à oração que brota do Espírito Santo. É Ele quem sabe colocar em nossos corações e em nossos lábios as palavras certas para sermos ouvidos pelo Pai.  

Ao assumirmos a proposta do Papa Francisco, participamos com toda a Igreja, do processo de redescoberta da pessoa de Jesus, a partir de um tempo propício de fortalecimento da fé, por meio da vida de oração. 

Estamos nos preparando para o Ano Jubilar do nascimento de Jesus Cristo. Crescer em nós a consciência que somos peregrinos neste mundo e nossa esperança é chegar à glória dos céus. Portanto, somos peregrinos da esperança. 

É chegada a grande oportunidade para rever nosso modo de orar. Talvez como os discípulos que ficaram decepcionados como Jesus sobre o seu jeito próprio de orar. Recuperou o sentido original da oração como conversa com Deus. A tal ponto que os discípulos acabaram pedindo a Jesus: ensina-nos a orar (Lc 11,1). Nasce aí o Pai Nosso.  

A oração se dirige a Deus, em Deus encontramos a força da superação das nossas fragilidades. Descobrimos que somos pobres em alimento corporal, e temos carência do perdão de nossas faltas e ainda pedimos para não cairmos na tentação do orgulho, da autossuficiência, do determinismo, do fundamentalismo.  

O Evangelista João, que teve a graça de sentir as batidas do coração de Cristo e de perceber o abismo de Amor que ele continha, fotografou os sentimentos das últimas horas da vida de Cristo relatando uma longa e memorável oração: a oração ao Pai, a oração da oferta de Amor, a oração da amizade divina, a oração fervorosa pela unidade dos discípulos, a oração para invocar a alma da oração para os apóstolos e para os discípulos de todos os tempos. Após, a Ceia, São Lucas relata: “Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: Orai, para não cairdes em tentação. Então afastou-se dali, à distância de um arremesso de pedra, e, de joelhos, começou.  

Como é possível que Jesus, no momento mais dramático de sua vida, quando até mesmo seu corpo reagia suando sangue, tenha visto a oração como única força e recurso? Pois foi exatamente assim! O Evangelho não pode ser mudado, nem retocado: é assim, simplesmente assim! Chegado o momento supremo, Jesus, orando, entra no abraço do Pai: e Jesus clamou com voz forte: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Dizendo isso, expirou (Lc 23,46). Se essa foi a vida de Jesus e se esse foi o seu apostolado, nós poderíamos viver uma vida diferente ou pensar de maneira diferente o nosso apostolado? 

Senhor, ensina-nos a orar. A Palavra de Deus nos responde. Escutemos. 

Dia 4 de outubro celebramos a morte de São Francisco de Assis. O homem orante, feito de oração. A humildade era extrema e nada poderia ser alcançado pela graça de Deus sem a simplicidade e humildade. Deixar-se inclinar pelo esvaziamento total de si mesmo e mergulhar no mistério divino requer espaço de silêncio, abdicar de toda e qualquer preocupação. Deixar Deus conduzir, tocar a vida. 

Nós, muitas vezes fazemos apenas atos aparentes de humildade, mas nosso coração permanece habitado pelo orgulho. 

Para Francisco, a decisão formidável de não adorar mais a si mesmo, prepara o salto para os braços de Deus. Uma coisa deve ficar bem clara: enquanto o “eu” estiver no centro, Deus estará sempre na periferia. Não nos esqueçamos disso! E, quando Deus está na periferia, não é possível nem mesmo a fraternidade! 

O risco para nós é este: fingir que damos ou demos o salto para Deus, enquanto mantemos os pés em suportes, vivendo uma vida de contínuos compromissos. Devemos fazer a verdade aparecer dentro de nós mesmos, como fez São Francisco. Só assim começa a conversão: começa com um ato de verdadeira humildade, um ato tão convicto que se torna uma atitude permanente. 

Para concluir, vamos a resposta dada a Michelangelo como ele havia conseguido esculpir o famoso David, ele respondeu: Foi simples! Bastou remover o mármore que escondia a obra-prima! 

O mesmo pode acontecer conosco: orando! Deixe que caia um pouco do orgulho, reze com muita fé e humildade, surgirá, então, a obra-prima que Deus esculpiu dentro de você.

Assista a celebração completa.