“Abriu-lhes a inteligência para entenderem as Escrituras” (Lc 24,45).
Jesus, agora ressuscitado, apareceu algumas vezes aos discípulos para manifestar a revelação completa do amor do Pai pela salvação da humanidade. Antes de subir aos céus onde está sentado no trono junto a Deus Pai, abre a inteligência dos discípulos. Eles começaram a anunciar que Cristo ressuscitado é a razão mais profunda e autêntica do ser humano que tem seu destino na glória do Pai.
Celebramos o dom da salvação todas as vezes em que celebramos a memória da sua vida, paixão, morte e ressurreição. A vida toda é exaltada quando entendemos as Sagradas Escrituras. Está escrito, portanto, é fato fidedigno a história da nossa salvação.
A riqueza do Ano Jubilar do nascimento de Jesus Cristo, reacende em nós a mística da comunhão, do estar juntos, celebrar os mistérios da nossa salvação. O autor da salvação caminha conosco, está no meio de nós, sentimos sua presença nos sacramentos, de modo especial, na leitura da Sagrada Escritura e na Eucaristia.
Nos encontramos hoje, aqui na Catedral, para celebrar o Ano jubilar neste mês com os grupos ligados à liturgia, os que animam, celebram, praticam a fé no Cristo que se fez humano. Com Ele peregrinamos ao encontro do Pai.
É preciso, em primeiro lugar, entender com mais profundidade o que é a liturgia. “A liturgia é o cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo, se reúnam em assembleia, louvem a Deus na Igreja, participem no sacrifício e comam a Ceia do Senhor” (Frei Alberto Beckhauser, OFM – em Sacrosanctum Concilium).
Somos convocados a aprofundar nossa compreensão sobre a Liturgia, a impelir os fiéis a serem saciados pelos mistérios pascais, a viverem em união perfeita, assim como a missa da oitava da Páscoa pede que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé.
O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis de 2007, desenvolve a relação entre liturgia e beleza nestes termos: “A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo particular, no valor teológico e litúrgico da beleza. De fato, a liturgia, como aliás a relevação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor).
Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens. Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor” (SCa 35) (P. Vitor Galdino Feller – Organizador – A nobre simplicidade da Liturgia- 2014).
O fascínio da Liturgia provém da Sagrada Escritura, Palavra de Deus, e, por isso, permanece sempre nova. “O Antigo Testamento nunca é velho, uma vez que é parte do Novo, pois tudo é transformado pelo único Espírito que o inspira. O texto sagrado inteiro possui uma função profética, a qual não diz respeito ao futuro, mas ao hoje de quem se alimenta dessa Palavra. O próprio Jesus claramente afirma isso no início do seu ministério: “Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21). Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro” (Papa Francisco Aperuit illis – Domingo da Palavra de Deus, n.12).
A CNBB publicou em 2019, o Documento 108, sobre “Ministério e celebração da Palavra”. O documento apresenta a celebração da Palavra de Deus como expressão da comunidade de fé. Por isso, indica a necessária formação dos ministros(as) da Palavra, bem como a definição de roteiros para a celebração. Não esqueçamos de abordar a urgência pastoral do ministério da Palavra e o reconhecimento aos numerosos ministérios que tantos irmãos, leigas e leigos, exercem, com grande dedicação e amor, na dinamização das paróquias e da Igreja particular. Por isso, ministério na comunidade é um serviço a ser acolhido e reconhecido pela comunidade eclesial (p. 11). Os bispos ainda acrescentam: “O tema da participação dos cristãos leigos e leigas no tríplice múnus de Cristo é retomado no início do Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos: ‘Na Igreja há diversidade ministérios, mas unidade de missão. Os apóstolos e seus sucessores receberam de Cristo o ofício de ensinar, santificar e governar, em seu nome e com seu poder. Ora, os leigos efetivamente participam do ofício sacerdotal, profético e real de Cristo, e têm na missão de todo o povo de Deus’” (Doc. CNBB 108, n.31).
Para o serviço litúrgico, o leitor deverá sempre pensar com o coração, porque é através dele que acolhemos a Palavra e o Espírito do Senhor, que é amor. A proclamação deverá partir do coração, e também dos lábios, porque estes fazem parte do sistema fonador, instrumentais de comunicação. Deve-se fazer um esforço para que a Palavra concebida no coração, pela ação do Espírito Santo, possa atingir o coração dos ouvintes” (Bruno Carneiro Lira, OSB – Leitores, salmista e ministros da Palavra, p. 29).
Acolhemos nesta celebração jubilar os nossos cantores, leitores e Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística, aqueles que fazem parte das equipes de serviços litúrgicos para o bom ordenamento da beleza das nossas celebrações. A entonação suave, leve, com harmonia dará mais vida à celebração que revela sua simplicidade, dando ritmo aos ritos celebrados.
É encantador o número de Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão. A Instrução Immensae Caritatis da então Congregação dos Sacramentos, hoje, Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicada em 29 de janeiro de 1973, assinala a data em que nasceu o ministério extraordinário da distribuição da Eucaristia. O adulto que é batizado e crismado, homem ou mulher, pode ser encarregado da distribuição do pão eucarístico, quer seja durante a Missa ou não. Um fato simples, mas de notável importância pastoral.
Esse acontecimento suscitou sentimentos de maravilha e de perplexidade, mas se revelou de grande utilidade pastoral. Até a bem pouco tempo atrás, não era possível que se confiasse a um leigo, menos ainda às mulheres, o serviço de levar o Viático a um enfermo. Podia-se apelar, nestes casos, à necessidade de caráter urgente, à grande distância entre a igreja e o domicílio, ou então a um impedimento do sacerdote (Augusto Bergamini – O Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística – Subsídio pastoral de formação).
Somos felizes por essa abertura da Igreja que possibilita a esses missionários da esperança, homens e mulheres leigos, a levar a Eucaristia aos enfermos em seus lares e hospitais.
Como peregrinos de esperança, neste Ano Jubilar, quero saudar as equipes de serviços, aos leitores, aos cantores que animam com beleza, encanto as nossas celebrações litúrgicas. Peço que se apresentem sempre atualizados, que realizem formação permanente, porque a Palavra de Deus é sempre nova, renova, reencanta, atrai para a vida em Deus.
Que os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, nunca deixem de visitar os enfermos, levar-lhes a Santa Comunhão, proferir uma palavra de ânimo, de conforto, de estímulo. Não abandonem aqueles e aquelas que vivem em sofrimento, lembrando-lhes que o Cristo sofreu primeiramente por todos nós e com ele superaremos as dores, os sofrimentos, a solidão deste mundo, porque estamos a caminho do Reino definitivo.
Levar o Viático é fazer entrar numa casa o próprio Cristo que está sempre no meio de nós. O respeito, a discrição, o cuidado, a sensibilidade são atitudes nobres que atestam a dignidade de ser instrumento de paz e de conforto para as pessoas machucadas e sofridas. Jesus quer precisar de nossas mãos, pés, coração, fé para confortar, levar o Evangelho da Salvação para todas as pessoas que esperam o encontro definitivo com Deus.
Nesta festa jubilar o pão repartido é a eficácia da Palavra revelada por Jesus Cristo. “Eu sou o pão vivo que desceu do céu, quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,51). A fé é sustentada pela Palavra que indica o caminhar e santificar, e a Eucaristia é o alimento que sustenta a fé como peregrinos de esperança.
Estamos a serviço da salvação em Cristo Jesus. Portanto, as equipes, leitores, Ministros, cantores, encantem com o chamado de Deus para servir e santificar a nossa vida e a vida de nossos irmãos e irmãs.
Que o Ano Jubilar do nascimento de Jesus Cristo nos fortaleça na fé porque somos peregrinos de esperança, rumo ao encontro definitivo de Deus Pai. Assim seja!
Dom Frei Severino Clasen, OFM
Arcebispo de Maringá (PR)