Reflexão: Liturgia do XXII Domingo do Tempo Comum, Ano A – 30/08/2020

24 de Agosto de 2020

"Reflexão: Liturgia do XXII Domingo do Tempo Comum, Ano A – 30/08/2020"

Jesus retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta

Na Liturgia deste Domingo, XXII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Jr 20, 7-9), o drama interno de alguém que se entrega completamente à atividade profética e sofre hostilidade e perseguição. Frente aos desafios, o profeta Jeremias não encontrou apoio nem na sua família nem na sociedade, sofreu angústia, crise pessoal e pensou em abandonar a sua missão profética. Fácil seria acomodar-se para ganhar o êxito e o aplauso! Os profetas verdadeiros, os cristãos verdadeiros, não costumam ser populares e, frequentemente, terminam mal por denunciar injustiças. O profeta é a figura de Jesus no seu caminho de paixão e de todo cristão que quiser ser consequente com a sua fé. Algumas vezes, o profeta tem a tentação de cair fora ou até de deixar de existir: “Maldito o dia em que nasci! Nem abençoado seja o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que levou a notícia a meu pai e que o cumulou de felicidade ao dizer-lhe: Nasceu-te um menino! Por que não me matou, antes de eu sair do ventre materno?! Minha mãe teria sido meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí do seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?” (Jr 20, 14-17).

Mas, sustentado pela Palavra, não desiste e, pela Palavra, compreende sua missão: “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações. Porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar, e a eles dirás o que eu te ordenar. Não deverás temê-los porque estarei contigo para livrar-te. Eis que coloco minhas palavras nos teus lábios. Vê: dou-te hoje poder sobre as nações e sobre os reinos para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares” (Jr 1, 4-10). Por fim, o profeta percebe que Deus está ao seu lado, amparando-o com sua presença e força, então, sua confiança em Deus permanece inabalável.

Na 2ª Leitura (Rm 12, 1-2), Deus nos faz um apelo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”.

No Evangelho (Mt 16, 21-27), apresentamos algumas chaves de leitura para uma melhor compreensão:

1ª) Jesus vai à Jerusalém, isto é, assume o compromisso com a cruz: renúncia, aceitação. Essas são as condições para o seguimento: renunciar a ser o centro de si mesmo ou a buscar o caminho mais fácil, ter medo das consequências. Não fazer como Pedro, que queria um caminho mais fácil, triunfante, vencer a qualquer preço, queria um Jesus bem-sucedido, Jesus do sucesso, com isso, tornou-se um obstáculo ao Reino. Jesus vence essa tentação. Alguns querem seguir Jesus do jeito que pensam, imaginam ou querem, mas não necessariamente devemos oferecer ao povo o que este quer, mas o que precisa.

Alguns querem que toda a Igreja seja reduzida à sua ‘pequena cabecinha’. Sempre comento: “É melhor errar com a Igreja do que querer acertar sozinho”.

2ª) Jesus é o centro: “Convém que Ele cresça e eu diminua”. O mundo e os bens não são o fim último para o ser humano. É preciso renunciar aos apegos, mesmo aos mais afetivos. O mundo se torna menos humano à medida que deixamos de seguir o Cristo, isto é, perdemos o sentido do sobrenatural. A economia, o lucro, não podem comandar tudo, isso levaria a perdas humanas, ecológicas, sociais, espirituais etc.

3ª) Jesus retribuirá a cada um de acordo com sua conduta: O céu ou o inferno começam aqui, na história. O ser humano é o único que sabe e pode antever o seu fim. Mas aqui mesmo, antes de passarmos à vida eterna, há recompensas existenciais importantes quando nos doamos ao que é bom e justo. Quando ajudamos, quando somos generosos, ficamos felizes. Devemos permitir aos outros que, também, nos ajudem. O Senhor espera que façamos o bem nas coisas de nosso dia a dia.

Recentemente, o Papa Francisco assim se expressava, em uma de suas homilias:

Quando tocamos em algo, deixamos as nossas impressões digitais. Quando tocamos as vidas das pessoas, deixamos nossa identidade. A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por causa de você. Seja fiel ao tocar os corações dos outros, seja uma inspiração. Nada é mais importante e digno de praticar do que ser um canal das bênçãos de Deus. Nada na natureza vive para si mesmo. Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Jesus não se sacrificou por si mesmo, mas por nós. Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. Não importa quão difícil seja a situação em que você se encontra; continue fazendo o bem aos outros.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá – PR