Reflexão litúrgica: quinta-feira, 20/07/2023 – 15ª Semana do Tempo Comum

19 de Julho de 2023

"Reflexão litúrgica: quinta-feira, 20/07/2023 – 15ª Semana do Tempo Comum"

O NOME DE DEUS ESTÁ LIGADO A UM PROJETO PARA O HOMEM E A SOCIEDADE 

Na Liturgia desta quinta-feira, XV Semana do Tempo Comum, vemos na 1ª Leitura (Ex 3,13-20), que Deus se revela no cotidiano da vida e diante de necessidades concretas. No Egito, Deus chama, convoca Moisés para libertar o povo hebreu da escravidão para uma nova vida, para uma terra onde corre leite e mel. Moisés era hebreu e tinha estudado na escola particular do Faraó, tinha consciência dos sofrimentos de seus irmãos, consciência que ardia como a sarça no deserto, no qual ele tinha empenhado fuga, devido à perseguição por ter investido contra um egípcio que estava maltratando seus irmãos: 

Quando Moisés era já homem, ia ter com os seus irmãos de raça e começou a dar-se conta das terríveis condições em que viviam e trabalhavam. Certa vez viu mesmo um egípcio a bater num dos seus irmãos hebreus! Não se conteve. Olhou dum lado e doutro para se certificar de que ninguém mais lhe via, matou o egípcio e enterrou o corpo na areia para o esconder... O Faraó soube disso e mandou que Moisés fosse preso e executado. Este, contudo fugiu para o deserto(Ex 2,11-14). 

A primeira tarefa de Moisés, porventura a mais árdua, é ser acreditado em seu intuito de libertação e suscitar no povo o desejo de ser libertado. O único caminho é apoiar-se no Deus que falou aos patriarcas, que deu início a esse povo. 


Deus revela seu nome e seu projeto de libertação 

Deus se revela como um Deus de imensa compaixão. O episódio da libertação do Egito, possibilitada somente com a intervenção direta de Deus, revela o grau de compaixão dele. Ele não consegue ficar indiferente “diante da opressão do povo, desce para libertá-lo, Deus conhece os sofrimentos, a aflição, ouve o clamor” (Ex 3,7-12). Para realizar seu intento, procura utilizar todos os meios à sua disposição. Chama Moisés e lhe confere poderes especiais. 

Deus, presença libertadora:“Eu os adotarei como meu povo e serei o Deus de vocês, aquele que tira de cima de vocês as cargas do Egito” (Ex 6,7). 

O nome de Deus está ligado a um projeto(Catecismo da Igreja Católica, 203-213) 

Deus se revela, se autodefine aos homens. Não é o homem que cria (define) Deus (como era o caso dos gregos e romanos). “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “O que vou responder? Eu Sou aquele que Sou, este é meu nome” (Ex 3,13-17). 

Deus, ao se revelar, mostra sua proposta (projeto) para o homem e para a sociedade. É o projeto que Deus revelou, de maneira especial, por meio dos profetas no Antigo Testamento. Podemos ilustrar este projeto com o exemplo do texto de Isaías: 65,17-25, que diz: 

- Haverá novo céu e nova terra; 

- Não haverá mais choro e clamor; 

- Não haverá morte prematura; 

- Construirão casas e nela habitarão; 

- Plantarão e comerão seus frutos; 

- Ninguém gerará filhos para viverem na humilhação; 

- Haverá harmonia entre o homem e a natureza. 

Jesus, ao se revelar (em comunhão com o Pai e o Espírito Santo), continua com o mesmo projeto de vida e dignidade para todos. Jesus confirma este projeto quando diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse projeto se concretizará quando atingirmos a mentalidade crística”. Isto é: “Quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11). 


Em Mateus, 9,35-38, Jesus estava comprometido com um projeto de libertação integral do ser humano, por isso vai ao encontro dos mais excluídos (povoados, periferias, margem). Lá Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas como ovelhas sem pastor (sem rumo, sem horizontes etc.). 

Então, Ele chama mais pessoas para este projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade, como nos diz o Papa Francisco: “Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu” (EG, 182). Sua atuação na política é sempre profética, quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo. 

Para que esse projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, “os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade (EV, 5). Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais” (DA, 501). 


Este projeto do Reino de Deus deve continuar na vida da comunidade 

- Mt 5,13-16, cada cristão deve ser sal, luz para a sociedade; 

- 1Pd 2,9-12): “Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para resgatar seu projeto”. Uma necessidade, um chamado na história. 

Não lutar pela justiça social é profanar o nome de Deus. Com que meios podemos lutar? 

O resumo da pessoa amada é o seu nome. Basta ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa. 

Ser povo de Deus significa ser um povo entre o qual não há opressão como no Egito; em que o irmão não explora o irmão; em que reinam a justiça, o direito e a verdade; em que a lei dos dez mandamentos é observada; em que o amor ao próximo é igual ao amor a Deus; e o povo vive e celebra a sua fé, e louva a Deus pelas suas maravilhas. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo. 


No Evangelho (Mt 11,28-30), os discípulos, os pobres em espírito estão cansados e oprimidos sob o fardo da lei e das observâncias farisaicas. Jesus chama-os à sua liberdade, a um incondicional apego a ele (jugo), único a poder tornar tudo leve, porque se apresenta humilde diante de Deus e afável com as pessoas. Jesus veio tirar a carga pesada que os sábios e inteligentes haviam criado para o povo. Em troca, ele traz novo modo de viver na justiça e na misericórdia; doravante, os pobres serão evangelizados e partirão para evangelizar.  


Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus. 


Pe. Leomar Antonio Montagna 

Presbítero da Arquidiocese de Maringá - PR 

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi - PR