DISPONIBILIDADE PARA CUMPRIR ÀS EXIGÊNCIAS DO REINO DE DEUS
Na Liturgia desta segunda-feira da VIII Semana do Tempo Comum, na 1ª Leitura (Eclo 17,20-28), vemos um insistente convite à conversão, porque grande é a misericórdia do Senhor para com aquele que se arrepende. Elementos da conversão: volta a Deus, afastamento das culpas, oração para suplicar o perdão, remoção das ocasiões pecaminosas e fuga da injustiça.
A gratidão, o louvor, a glória de Deus são a mais alta função de nossa passagem pela terra dos vivos. Por isso, nós, em cuja vida a luz e eficácia profunda do Evangelho não transparecem com a evidência exigida por nosso caráter de batizados, crismados ou ainda de sacerdotes e religiosos, temos necessidade de contínua conversão. Com efeito, no início de cada celebração eucarística, apresentamo-nos ao Senhor como arrependidos, que oram humildemente para que ele ofereça de novo e sempre a possibilidade do retorno. A conversão não é somente romper com o pecado e observar a lei de Deus. É, sobretudo, a constante progressiva orientação para a união com Deus. É comungar em novidade de vida, é vontade de perseverar, conversão contínua.
No Evangelho (Mc 10,17-27), vemos uma pessoa rica que se preocupa com a vida eterna e, diante da proposta de Jesus para que partilhe seus bens, retira-se entristecido. Aqui, constatamos que ter bens não é o problema, o problema é o apego absoluto, obstáculo para o seguimento. Seguir Jesus é despojar-se, partilhar, não é ficar sem nada, mas comprometer-se com os mais fragilizados, com o bem comum, com a justiça social, com políticas públicas e projetos políticos que visem à garantia dos direitos básicos de todas as pessoas. Muitas pessoas, hoje, não estão dispostas a partilhar, mas, pior ainda, quando não aceitam a promoção dos pobres, não estão dispostos a conviver com os pobres, destilando até ódio e preconceito contra eles.
A pessoa que se encontrou com Jesus, neste trecho do Evangelho, era rica e se apresentava com um ‘bom currículo’, observava os mandamentos, quem sabe, quis até bajular Jesus: “bom mestre”. Jesus o interroga e cita os mandamentos em relação ao próximo e acrescenta: “não defraudes ninguém”, podendo ser uma indicação que muitos bens que ele possuía poderiam ter sido resultado de um roubo legal, isto é, no cumprimento da legislação injusta. Enquanto ele está muito preocupado com a vida eterna para si, Jesus preocupa-se com os seres humanos que, neste mundo, não possuem o necessário para viver.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), nos diz que a função da Igreja não se reduz a ‘salvar almas’:
“A tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas ‘para nosso usufruto’, para que todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum” (EG, 182).
Cristo, hoje, continua a nos chamar: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres. Depois, vem e segue-me!" Continua nos ‘olhando com amor’. Ele conta com cada um de nós para distribuir as riquezas espirituais e materiais que possuímos, também, aos que ainda vivem na miséria religiosa e social.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá-PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi-PR




