Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 7º Encontro 18/11/2024

18 de Novembro de 2024

Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 7º Encontro 18/11/2024

A oração de Maria e das Santas que a encontraram

Catherine Aubin

Estamos no sétimo encontro, alimentando nosso coração com a oração de Maria e o nosso jeito de aprender a rezar.

Inspirado na reflexão de Catherine Aubin, Deus se utiliza dos meios comuns para manifestar sua grandeza e misericórdia, também através da mulher que gerou seu Filho Jesus para o nosso bem.

A natureza da oração é a postura que nos capacita a mergulhar dentro de nós mesmos, nos silenciar e deixar Deus agir. Deus deu o paraíso para Adão cuidar da obra criada. Adão falhou na missão pois, não foi persistente, constante, fiel, obediente. Se deixou enganar. Em Maria, Deus confiou a criação do seu próprio Filho. Ela silenciou, foi fiel, obediente, submissa, serviçal.

A primeira atitude de Maria é de se colocar na confiança de Deus, a capacidade da escuta. Escutar o que o Espírito Santo nos diz. Deixar Deus falar, observar e guardar no coração. Escutar sem questionar, eis a primeira sabedoria. O segundo nível nos leva a ouvir sob a forma de alusão, sugestão ou evocação. O terceiro nível é o da interpretação, do esclarecimento. O quarto nível é o nível da revelação do mistério. A Palavra de Deus invoca constantemente esses quarto níveis para nos levar a uma viagem para dentro, do mundo exterior ou físico para o mundo interior. (17). O desafio é saber entrar no mundo interior que revela o segredo mais íntimo escondido no nosso coração.  Lá está a centralidade da nossa vida, o sentido mais profundo do nosso viver. Maria fez essa experiência de vida. Abriu o coração. Deixou Deus entrar. “Em verdade, em verdade vos digo: “eu sou a porta das ovelhas. Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo” (Jo 10,7;9). Jesus nos convida a entrar dentro de nós mesmos e deixar que descubramos como abrimos a porta do coração para entrar e saber como estamos. “Isto é, o Senhor nos pergunta: Em que lugar, dentro de ti, te encontras? ou ainda: “Onde estás, homens e mulheres? Estou em tua casa, mas é impossível entrar, só estás de passagem”, como escreveu Santo Agostinho. Como entender esse questionamento? Ele não nos remete ao “sentido” de nossa existência ou mesmo à nossa essência? Ao nosso íntimo, onde devemos nos encontrar? Ou seja, à nossa maneira de acolher, receber e reencontrar a Presença do Senhor? Nossa vocação não é conquistá-lo, habitá-lo e permanecer nele? Cada lugar, cada espaço não são como uma matriz interna que alicerça aquilo que nos tornamos em Deus? (19).

Nazaré é o local onde Jesus viveu a juventude com Maria e José. No momento da Anunciação, Maria e José moravam em Nazaré, mas não se sabe se nasceram lá (Lc 1,26; Lc 2,4 e Lc 2,39). Ali, Jesus cresceu e passou boa parte de sua vida (Mt 4,13; Mc 1,9; Lc 2,51; Lc 4,16) (24).

Nazaré é um vilarejo desconhecido, escondido, inclusive tem uma reputação negativa quando Natanael expressa seu desprezo: “De Nazaré pode sair algo bom? (Jo 1,46). É esse local que Maria escuta as palavras do anjo Gabriel, e que nós escutamos a voz e as palavras dela pela primeira vez. Para nós, viver em Nazaré significa ter acesso a um lugar onde podemos, enfim, deixar-nos ser alcançados, questionados e interpelados pela voz de Maria: um lugar de serenidade. (25).

O ser humano é uma criatura que continuamente busca o seu lugar de sossego, de paz, de descanso, de ternura e de aconchego. Viver em Nazaré é viver escondido aos olhos dos homens e de suas ilusões, é viver na realidade de um cotidiano imerso na presença de uma Mãe que nos faz crescer e florescer na vida espiritual. (25)

Nas bodas de Caná, Maria revela sua total confiança em seu Filho Jesus. Como mãe atenta, pronta, serviçal, prestativa, sensível às necessidades, toma liberdade e antecipa na busca de soluções para que a festa não seja prejudicada. Vejam a atitude de Maria, ela se posiciona atrás do filho, não impõe, aponta a dificuldade. Eles não têm mais vinho... A ação de Jesus, é de inclusão. Jesus une os serventes ao seu milagre. Essa maneira de agir indica o desejo de Jesus em fazer com que cada um de nós sejamos participantes da sua revelação.

Busquemos nossa “Caná interior”. Por que ir a esse lugar de núpcias? Justamente porque é um lugar de alegria compartilhada. Estar em Caná significa estar em um lugar de dom, pois cada vez que nos colocamos a serviço, entregamo-nos em um ato de generosidade e luz. O serviço como dom de si é uma transformação, um testemunho de bondade e luz. (28).

Poucas vezes Maria aparece nos Evangelhos, portanto, tem poucas palavras. Mas elas surtiram efeito que nos encaminha na vida para fazer à vontade de seu filho e caminhar rumo ao Reino definitivo. Sua atitude é oposta daquela narrada no relato da “queda” de Adão e Eva (Gn 3,2-7). Ela foi fiel até o fim. “Eis aqui a serve do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Essa palavra ressoa em todos os séculos do cristianismo.

Inúmeras vezes, ela aparece à pessoas simples e orienta a humanidade para uma postura de fidelidade a Deus e aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Alguns exemplos clássicos: Santa Catarina Labouré, século XIX. Aos 24 anos de idade, Catarina começa sua formação em Paris com as Filhas da Caridade, fundadas por São Vicente de Paulo. Ela acolhe algumas aparições de Maria. (49).

Santa Bernadette de Lourdes, aos 14 anos, em 1858, Maria pergunta e deseja um encontro, sem qualquer pressão ou coesão. Ela pede e deseja uma relação livre, de amor, totalmente afastada de qualquer forma de domínio. (52). O coração livre e mergulhado na confiança de Deus encontra eco da divindade ao qual Maria, no exercício do Sim, nos ensina a dizer sim a Deus.

Concluímos a reflexão na certeza de que, como os discípulos perguntaram a Jesus, Mestre onde moras? No alto da Cruz, agonizante, Ele ainda teve forças para nos dar a sua mãe: “Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo a quem amava, disse à mãe: Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo, eis tua mãe. A partir daquela hora, o discípulo a acolheu em sua casa” (Jo 19,26-27).

João levando consigo e em si Maria, a mãe de Jesus, seguiu, assim, a palavra de Jesus. Nós também, abrimos a porta para Maria, para que ela esteja conosco e em nós. Nós também, como o Evangelista João, “levamos Maria conosco”, e graças a ela encontramos nosso lugar no dia a dia. (56). “Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21).

Que no Ano Jubilar, coloquemos em prática o que Jesus nos ensinou com o coração aberto como Maria. Amém.