Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 8º Encontro

25 de Novembro de 2024

Vivências sobre a oração - Catequese com o Arcebispo, 8º Encontro

A oração que Jesus nos ensinou: o Pai-Nosso

Ugo Vanni

Estamos às portas do ano jubilar, 2025. A oração é o maior e mais eficaz instrumento para nos prepararmos bem para a festa jubilar do nascimento de Jesus, como: peregrinos da esperança.

Nesta última catequese sobre a Oração meditemos sobre o Pai-Nosso que é a síntese de todo o Evangelho. “Longe de qualquer fórmula, nela está o centro da relação com Deus e que o cristão experimenta profundamente no coração. Essa é a oração de cada fiel e da Igreja inteira, que experimenta assim a presença contínua do Espírito que dá vida” (11). Esta é a oração que nos coloca em unidade com o Pai. Queremos fazer a vontade do Pai. Prevalece a vontade do Pai, e na vontade do Pai que geramos unidade regada pelo amor.

Os antecedentes em Marcos.

O primeiro evangelho a ser escrito é São Marcos, também conhecido como “o Evangelho do catecúmeno”, porque se adapta particularmente à iniciação cristã. Os doze percorrem um itinerário de fé, cujas etapas principais coincidem com o desenvolvimento do texto do Evangelho. (17). A Igreja no Brasil está dando ênfase na IVC porque está retomando cada vez mais a apresentação, a formação, o itinerário para o seguimento de Jesus.

Em Marcos não encontramos a forma litúrgica do Pai-Nosso. Mas os discípulos são gradualmente introduzidos à oração, são encorajados a se dirigirem a Deus com a máxima confiança (cf. Mc 11,22-24). (17).

A formulação completa de Mateus

São Mateus insere a oração do Pai-Nosso no Sermão da Montanha (Mt 6,9-13). O sermão representa um programa relativamente completo da prática cristã, baseado nas bem-aventuranças iniciais (Mt 5,3-11). Essas bem-aventuranças representam os juízos de valor que Jesus emite sobre as escolhas fundamentais do ser humano, sobre os aspectos válidos ou não de sua vida. Jesus enfatiza que a oração é dirigida ao “Pai que está nos céus (Mt 6,1). (21).

A oração cristã inspirada pelo Pai-Nosso se dirige a Deus chamando-o de Pai. A ressonância desse termo no ambiente de Jesus e dos primeiros discípulos é, antes de tudo, de natureza social. O pai é aquele que, com senso de zelo e responsabilidade, organiza a vida da família e providencia o que cada um necessita (cf. Mt 13, 52). (23).

O caráter da oração é o pedido. Nesse caso, o primeiro pedido é que o nome de Deus seja de santificação. Em seguida, diz respeito ao Reino de Deus, o Reino do Pai que está nos céus. (25). A criatura humana é convocada a santificar o nome de Deus porque Ele tem o reino de paz, de amor e de justiça para toda a humanidade.

Outro pedido apresentado ao Pai diz respeito à realização da sua vontade. A vontade do Pai é entendida objetivamente: trata-se de tudo o que Deus planejou para o ser humano, principalmente os mandamentos, todas as instruções que derivam da Palavra de Deus encarnada em Cristo e interpretada pelo Espírito. Fazer a vontade de Deus implica em uma total disponibilidade em relação a essa amplitude da história que a manifesta. Aí o cristão percebe que o melhor está exatamente naquilo que Deus lhe propõe. (27).

O pedido por pão está no centro das sete petições da formulação de Mateus. É também a que parece ser a mais característica do cristão que se dirige a Deus como Pai: é próprio de um pai dar pão aos filhos. O pão, no ambiente cultural bíblico é ao mesmo tempo uma realidade concreta e um símbolo. Na linguagem realista, o pão representa o alimento básico da vida. (28).

O quadro familiar no qual se insere a solicitação inclui a plenitude da família. O pão pedido é “nosso”, não “meu”: é o pão de todos, que alcança a todos. Pedimos uns aos outros. O espírito de família sugerida pela figura bíblica da paternidade também implica uma reciprocidade horizontal entre os cristãos, que são irmãos. Juntos, eles devem se sentir filhos do Pai. (29).

Existe uma exigência familiar por parte de Deus Pai, que deseja ser imitado nessa bondade construtiva e contínua. Portanto, para poder invocar Deus como Pai, o cristão deve primeiro estender a mão aos seus irmãos. Deus, poderíamos dizer, se recusa a ser invocado fora desse contexto coletivo familiar e rejeita aqueles que tentam se aproximar dele de forma individualista e excluindo os outros.

As duas últimas petições do Pai-Nosso em São Mateus ainda tratam do mistério do pecado visto nos elementos que facilmente o condicionam a tentação e o maligno. O conceito bíblico de tentação é peculiar e, mais do que um conceito estrito, é um conjunto de conceitos. A tentação ocorre quando certos valores, previamente realizados individual ou coletivamente, são submetidos a uma espécie de pressão. Pode ser uma pressão individual ou coletiva, momentânea ou prologada. (31)

Deus Pai superou o mal na história desde o início e o derrotou por meio da morte de Jesus. Portanto, Ele pode proteger adequadamente seus filhos, não apenas os guardando, mas, de fato os arrancando das garras do maligno. (33).

Pai-Nosso em Lucas.

Lucas oferece, na oração, alguns relacionados à atitude de Jesus. Jesus ora. Para fazê-lo, muitas vezes se retira para lugares solitários, isolando-se até mesmo de seus discípulos. Eles percebem isso, apreciam o comportamento do Mestre e são inspirados a imitá-lo. Então, eles pedem ao Senhor que os ensine a orar. Então Jesus lhes diz: Quando orardes, dizei” (Lc 11,2). Pressupõe-se uma vontade de oração decidida, séria, comprometida por parte dos discípulos. (43).

O Pai-Nosso em João

O Evangelho de São João não aborda uma fórmula de oração que lembre diretamente o Pai-Nosso. Mas João fala da oração, enfatiza-se a oração que é dirigida ao próprio Jesus, pedindo em seu nome.

Encontramos, todavia, uma oração dirigida especificamente ao Pai e expressa diretamente por Jesus: é o capítulo 17 do Evangelho de João.

Desde o início, Jesus no Evangelho de João é apresentado como o Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo 1,14). Toda a vida de Jesus é regulada pelo Pai. Existe uma sintonia operacional perfeita entre Jesus e o Pai (cf. Jo 5,19). (50).

João ensina, antes de tudo, que os discípulos oram enquanto aprendem a orar com Jesus. Vendo como Jesus ama apaixonadamente e realiza a vontade do Pai, a Igreja joanina percebe o que significa pedir para fazer a vontade do Pai assim na terra como no céu: A vontade do Pai realizada por Jesus, exprime no âmbito terreno a transcendência – como no céu – da execução da vontade do Pai. (57).

Concluindo: O Pai -Nosso se condensa em Jesus, que é o centro das Escrituras, se desdobra na fórmula da oração do Senhor e se torna a oração da Igreja (N. 2759-2772) (64).

Que o Ano Santo nos aproxime de Jesus e nossa fé seja alimentada e fortalecida pela oração que Jesus chama de Pai-Nosso.

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