O papel fundamental das mulheres na fé cristã

11 de Março de 2020

O papel fundamental das mulheres na fé cristã

Sem desmerecer a pessoa do meu pai, que me ensinou muitas coisas, destaco a pessoa de minha mãe, como grande inspiradora da minha fé. Assim como tantas mulheres o fazem, minha mãe me ensinou a rezar o terço, a participar da missa com respeito e a viver uma devoção. Creio que o sacerdócio que exerço hoje tem muito a ver com aquilo que aprendi dela. Pela Bíblia, sabemos que homem e a mulher são imagem de Deus criador e pelos filhos que geram são mediadores da vida. Entretanto, a maioria das mulheres de fé geram a vida corporal de seus filhos dentro de si e geram a vida de fé dentro de seus filhos. Ao cuidar dos filhos, a mulher deve os ajudar no desenvolvimento humano-espiritual. Alguns estudos antropológicos mostram que as mulheres têm essa facilidade porque possuem uma propensão mais intensa para a fé, em razão da sensibilidade feminina. 

 

Embora a Bíblia não tenha livros escritos por mulheres, o Antigo Testamento possui alguns livros com nomes femininos: Rute e Judite. Outros livros elogiam a mulher, dizendo ser ela a alegria e a coroa do marido, comparando-a à sabedoria (Pr 31,10-31). Ao mencionar Abrão, Isaac e Jacó, a Bíblia também fala de Sara, Rebeca, Raquel e Lia. Ao falar de Moisés e Aarão, destaca Miriam e Séfora. Vemos a importância das parteiras, que salvam as vidas dos meninos, de Ester, e tantas outras. 

 

Na tradição cristã, Jesus inova, tendo mulheres que o seguiam. O evangelista Lucas, por exemplo, diz que um grupo de mulheres seguia Jesus: Maria Madalena, Joana, Suzana, dentre outras (Lc 8,1-3). As primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus foram as mulheres, mostrando sua importância na vida de fé. Maria, a Mãe de Jesus, tem grande importância na obra da redenção, sendo considerada Corredentora. O evangelista Marcos diz que uma mulher anônima unge Jesus com óleo perfumado, que era uma prática típica dos profetas, que ungiam os reis. Agradecido, Jesus a valoriza dizendo que onde o Evangelho for proclamado, esse episódio será lembrado (Mc 14,9). 

 

No início da Igreja, a mulher aparece desempenhando muitos papéis importantes. O evangelista João, por exemplo, fala da estrangeira sírio-fenícia, que foi encontrar Jesus e o faz ver que os cachorrinhos também precisam de pão que cai das mesas, ajudando Jesus a alargar sua visão de missão sobre todos os povos (Mt 15,26). As irmãs de Lázaro, em Betânia, têm uma relação importante com Jesus. Muitas mulheres colaboram com o apóstolo Paulo em sua missão. Na Primeira Carta a Timóteo, Paulo afirma que a mulher será salva pela maternidade, mas, igualmente à condição do homem, ela deve permanecer na fé, no amor e na santidade (cf. 1Tm 2,15). Na história da Igreja, encontramos muitas mulheres fundadoras de grandes obras como Santa Clara, Santa Tereza de Ávila, Irmã Dulce e tantas outras. As “beguinas”, moças leigas que viviam a castidade e vida de oração, sem serem monjas ou religiosas, no século XII influenciaram muitos místicos e difundiram devoções que são a base do catolicismo popular de hoje. 

 

Como colaboradora do criador, gerando filhos no corpo e no espírito a mulher aparece na história como protagonista de tantos feitos. Hoje, vemos tantas mulheres mães que protagonizam a transmissão da fé aos seus filhos, outras que, com seus ministérios, transmitem a fé aos filhos que a Igreja lhes confia com fé. O teólogo José Comblin observa que em toda a Idade Média, diante de vários lapsos evangelizadores da Igreja, se não fossem as mulheres transmitirem a fé em suas famílias, o cristianismo teria enfraquecido muito e que as milhões de mulheres simples, missionárias em seus lares, é que o cristianismo subsiste e avança. Mulheres que carregam uma força divina inexplicável, mostrando que a força de Deus está na fé dos que parecem fracos, não no poder dos que se dizem fortes. 


Padre Gelson Mikuszka, professor do Curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Câmpus Londrina