Crônica: “Aqui criamos juízo”

25 de Junho de 2020

Crônica: “Aqui criamos juízo”

“Aqui criamos juízo”

 Por A. A. de Assis

Numa certa manhã, meados dos anos 1960, um dos pioneiros da cidade desceu do carro em frente ao local onde estava sendo construída a nova catedral de Maringá, ao lado da antiga igrejinha de madeira. Lá estava, em visita às obras, nosso primeiro bispo, Dom Jaime Luiz Coelho. O grandioso templo, projetado para chegar a 124 metros (mais 10 contando a cruz a ser colocada no topo), já estava com cerca de 30 metros. O homem aproximou-se, cumprimentou o bispo, fez uns rodeios, pediu licença e disse:

     – Olhe aqui, Dom Jaime, se eu fosse o senhor, mandava parar a construção no ponto em que está, que está muito bom assim, botava um telhado por cima e pregava uma placa dizendo: “Aqui criamos juízo”.

     Graças a Deus Dom Jaime não criou “juízo”. Abraçou o amigo, agradeceu o conselho, porém disse que continuaria a obra até o final. No meio da conversa ainda conseguiu que o homem prometesse continuar ajudando, como de fato continuou: no dia seguinte mandou entregar lá um monte de sacas de cimento.

     O querido pastor estava acostumado a ouvir espantos relacionados com a imponência do novo templo. Com frequência alguém lhe dizia: “O senhor é um homem peitudo mesmo. Pra tocar uma obra dessas tem que ter muito tutano”. Ele respondia: “Peitudo, na verdade, não sou eu; é o povo de Maringá. Sou apenas um homem de fé. Desde que aqui cheguei senti a fibra desta gente. Tenho certeza absoluta de que vamos juntos concluir logo a construção”.

     Ele via a cidade crescer rapidamente em todos os sentidos. Achava então que a Casa de Deus teria de ser grande também, para mostrar que a espiritualidade estava em primeiro lugar no coração das famílias pioneiras. Imaginou um grande cone apontando para o céu, procurou em São Paulo o célebre arquiteto José Augusto Bellucci e em abril de 1958 expôs aos fiéis a maquete da futura catedral.

     Quatro meses depois, no dia 15 de agosto, festa da padroeira Nossa Senhora da Glória, fez-se o lançamento da pedra fundamental – um pedaço de mármore retirado das escavações da basílica de São Pedro, no Vaticano, bento pelo papa Pio XII.

     Em julho de 1959 iniciaram-se as obras. No dia 10 de maio de 1972, aniversário da cidade (25 anos), festejou-se o término da estrutura. No dia 31 de dezembro do mesmo ano, Dom Jaime celebrou a primeira missa na catedral nova. A Casa de Deus, que o povo de Maringá construiu em união com o primeiro bispo da diocese, está lá até hoje e lá estará por todo o sempre, como realização máxima da geração desbravadora. Quantos ajudaram a erguer tão belo símbolo de fé? Quanto suor de quantos operários? Quantas sacas de café doadas por pequenos e grandes agricultores? Quantas moedinhas oferecidas por humildes fiéis? 

     Um bispo peitudo e um povo generoso e forte. A fé faz maravilhas.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 25-6-2020)